Brunei. A arte saiu à rua num país assim

Mala de viagem (27). Um retrato muito pessoal do Brunei
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"Sempre trabalhando guiados por Alá" é o lema dos naturais do Brunei. Talvez independentemente do Deus que os guia e de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Sultanato é bem classificado em produto interno bruto por indivíduo em paridade com o poder aquisitivo. A revista "Forbes" também classificou Brunei como um país rico, devido à sua extensa área de petróleo e de gás natural. Porém, em 2019, o país foi considerado "não livre", pela Freedom House. O Brunei está localizado na costa norte da ilha do Bornéu. Está dividido em dois territórios separados apenas por uma baía, ambos com a costa norte para o mar da China mais a sul. Parti de Londres, no único voo direto para Bandar Seri Begawan, capital do Brunei, demorei mais de 13 horas. A ideia era contemplar alguns países vizinhos. Claro que, no Brunei, estamos longe do grande império que absorveu as Filipinas e a grande ilha do Bornéu. Tem entre as suas fronteiras uma parte extremamente bem preservada da luxuriante floresta tropical de toda a ilha. A minha expetativa era grande. E a pergunta era óbvia. O que é que eu iria descobrir nesta pequena, rica e conservadora nação, para além do que a Internet nos dá? Num dos primeiros passeios, descobri no espaço público algo que já constara nos meus apontamentos, mas que me impressionou de perto. A arte é uma experiência compartilhada, e nos últimos anos os artistas do Brunei levaram as suas obras para a rua, como contributos sobre a cultura, a história e as expressões artísticas da geração mais jovem. Parei defronte do Dewan Bahasa dan Pustaka, o Bureau de Língua e Literatura. Um mural de mosaico de 30 metros de largura e uma das obras de arte ao ar livre mais antigas do país. Encomendada pelo sultão e concluída em 1965, precisamente no meu ano de nascimento - de há uns tempos a esta parte sou sensível às ocorrências nesse ano -, esta montra de arte foi criada a partir de telhas feitas de acordo com uma pintura concetualizada pelo artista Pengiran Dato Paduka Haji Asmalee bin Pengiran Ahmad, ainda em jovem. Hoje, ele é um consultor artístico para diversas exposições de arte. Ali, temos uma rápida imagem da história e da cultura do Brunei. A capital foi inicialmente construída sobre as águas. Do seu património, em particular, a mesquita islâmica de Sultan Omar Ali Saifuddien é considerada como uma das mais belas da Ásia-Pacífico, um lugar de culto para a comunidade muçulmana e uma atração turística. E uma outra, mais distante do centro, é a Mesquita Jame Asr Hassanil Bolkiah, a maior do país. Porém, em período de Ramadão, não se permite a entrada de visitantes não-muçulmanos. Entrei, porque a visitei noutra época do ano. Depois de duas noites num hotel modesto - os outros são dispendiosos -, apanhei o comboio e segui para Kota Kinabalu, na Malásia.

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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