Britânicos querem que rainha contribua para restauro de Buckingham
As obras no Palácio de Buckingham vão começar em abril e deverão durar dez anos. Nesse período, a Rainha Isabel II e os restantes membros da família real britânica que vivem na residência londrina não vão ter de sair, ao contrário de muitos funcionários que passarão a estar instalados em contentores nos relvados. A primeira grande remodelação do palácio desde o final da II Guerra Mundial vai custar 369 milhões de libras (uns 430 milhões de euros) aos contribuintes britânicos. Um valor que gerou duras críticas por parte de alguns deputados e apelos - até uma petição - para que a Rainha contribua para os gastos.
Dezasseis quilómetros de canalizações novas, 6500 fichas elétricas, 500 acessórios de casa de banho e a substituição de mais de 30 mil m2 de soalho e 32 quilómetros de rodapés vão garantir a segurança do palácio. Peritos responsáveis pela avaliação da residência onde vivem Isabel II, o marido, o príncipe Filipe, o filho mais novo, Eduardo, e a família, bem como o príncipe André e a princesa Ana concluíram que, sem obras, o palácio apresentava "riscos sérios" de incêndio e infiltrações. O que poria também em riscos as obras de arte no seu interior.
Crítico da monarquia, John McDonnell, o ministro sombra das Finanças, foi ontem ao Andrew Marr show da BBC garantir que apoia as obras em Buckingham, porque é "um monumento nacional". O trabalhista não deixou no entanto de sublinhar que Isabel II devia "considerar" contribuir para a renovação do palácio e acrescentou que seria "um gesto simpático" se a residência da Rainha passasse a estar acessível gratuitamente aos contribuintes. "Se a Rainha ou a família real considerar um contributo, não vou devolver o cheque", admitiu McDonnell, uma das principais figuras do governo sombra do líder do Labour, Jeremy Corbyn.
A ideia de haver um contributo por parte da Rainha é partilhada pelo secretário do Comércio sombra, Clive Lewis, que defendeu essa solução na ITV.
Já o ministro das Finanças, o conservador Philip Hammond, explicou que o Tesouro tem de aumentar as despesas, uma vez que Buckingham está "num estado decrépito". O dinheiro para as obras provém do Sovereign Grant, um fundo estabelecido anualmente para garantir as despesas da rainha e da família real. Este vai sofrer um aumento na próxima década para suportar as obras no palácio.
Aprovado já pela primeira-ministra Theresa May e pelo ministro das Finanças Philip Hammond, o reforço do Sovereign Grant tem ainda de ser aprovado pelo Parlamento nos próximos seis meses. O dinheiro deste fundo provém dos lucros gerados pelas propriedades e outros negócios antes na posse de Isabel II mas agora geridos pelo Estado. A Rainha costuma receber 15% dos lucros anualmente - um valor que vai subir para 25% ao longo dos próximos dez anos. Em 2015/2016, as propriedades reais geraram 304,1 milhões de libras, o que, se aplicarmos a taxa de 25%, significa que em 2017/2018 o Sovereign Grant contará com 76 milhões de libras. O dinheiro é usado para pagar a funcionários e garantir as despesas com receções, cerimónias e festas. As despesas privadas de Isabel II são pagas pelo seu rendimento próprio.
Mandado construir em 1703 pelo duque de Buckingham, o palácio foi adquirido pelo rei Jorge III em 1761, no século XIX foi alvo de obras de alargamento. Mas só em 1837 se tornou na residência oficial da rainha Vitória. Com as suas 775 salas e o maior jardim privado de Londres, Buckingham tem uma zona aberta ao público no verão. Estas novas obras garantem que o palácio continuará funcional até 2067.