"Brexit seria uma bomba debaixo da economia", diz David Cameron
A pouco mais de duas semanas da realização do referendo marcado para dia 23, duas sondagens online dão uma ligeira vantagem ao lado que defende a saída do Reino Unido da União Europeia.
No estudo da empresa ICM, realizado entre 3 e 5 de junho, 48% dos inquiridos querem dizer adeus à Europa e 43% prefere a permanência. Já no barómetro da YouGov, a vantagem, também para o lado do brexit, é de 45% contra 41%.
Analisando, no estudo da ICM, a distribuição dos votos por faixas etárias, chega-se à conclusão de que os britânicos mais anti-europeus são os mais velhos. De entre os inquiridos com mais de 75 anos, 59% disseram que querem sair e só 29% prefere continuar na UE. Visto por outro prisma, os mais apaixonados pela Europa são assim os mais jovens: 60% dos respondentes na faixa entre os 18 e os 24 anos irão votar pela permanência e apenas 24% diz que escolherá o adeus.
Na divisão por classes sociais também é possível identificar um padrão bastante marcado. A maioria dos inquiridos pertencentes à classe AB quer manter-se na Europa: 51% disseram que sim, o que contrasta com os 32% entre os indivíduos da classe DE.
Apesar de os resultados destas sondagens mais recentes poderem dar a entender uma inversão na tendência, colocando o brexit no caminho da vitória, ainda é cedo para retirar conclusões. Ainda para mais porque estão em causa duas sondagens online e, até agora, tem-se notado que estas favorecem os defensores do adeus à Europa, enquanto que as telefónicas costumam dar a vitória ao lado da permanência na União Europeia.
Trunfos na mesa
O que poderemos esperar nas próximas duas semanas? Peter Kellner, politólogo e especialista em estudos de opinião, num artigo publicado na Newsweek, acredita que o Reino Unido acabará por votar pela permanência.
O perito entende que este pico em favor do brexit, que se verifica nas sondagens mais recentes, é um efeito normal nesta altura do campeonato e que isso pode ser comprovado historicamente pela análise de referendos anteriores.
Num sentido contrário, um analista do Financial Times, Sebastian Payne, argumenta que as duas últimas semanas de campanha serão, em princípio, mais vantajosas para os adeptos do brexit. Isto porque, no seu entender, os defensores da permanência já usaram todos os trunfos mais fortes enquanto que os partidários da saída ainda podem continuar a explorar o fantasma da imigração.
Democracia e economia
Enquanto os números entretêm os analistas, as duas campanhas continuam na estrada a lançar argumentos para os eleitores.
Ontem, Boris Johnson, o principal rosto daqueles que querem o adeus à Europa, esteve presente numa ação da plataforma Vote Leave que decorreu em Stratford-upon-Avon. "Os defensores da permanência só recorrem a argumentos económicos porque entendem que têm vantagem nesse campo e sabem que nos argumentos democráticos somos nós que ganhamos. No fundo, o que eles dizem é que esse sacrifício no lado da democracia é compensado pelos ganhos no lado da economia. Mas essa lógica está completamente errada porque a democracia é um ingrediente vital para o sucesso económico", argumentou o ex-presidente da câmara de Londres.
No campo oposto, David Cameron, em Londres, voltou a recorrer a imagens bastante fortes para mostrar aquilo que no seu entender podem ser as consequências de um abandono da União Europeia: "O brexit seria como pôr uma bomba debaixo da economia".
Boris Johnson admitiu que a moeda britânica poderá, no imediato, sofrer uma desvalorização - o que aliás já aconteceu, face ao dólar, com a divulgação das últimas sondagens -, mas sublinhou que, a prazo, esse efeito negativo será mais do que compensado: "A libra, no curto prazo, irá onde tiver que ir. Mas, acreditem que, a longo prazo, este país terá um sucesso tremendo e a libra será um reflexo dessa vitalidade da nossa economia".