'Brexit' por acidente?
Não é tão evidente como a crise dos refugiados ou a ameaça terrorista. Para já. Mas o referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE pode tornar-se o seu principal desafio em 2016. Inicialmente prometida para 2017, a consulta pode ser antecipada, conforme deu a entender após o último Conselho Europeu o primeiro-ministro David Cameron. Este espera obter em fevereiro um acordo com os parceiros europeus sobre as reformas que quer ver realizadas na UE para defender o sim no referendo. Caso contrário, teria de defender o 'brexit'.
"É expectável que o referendo aconteça em 2016. Cameron não fará campanha pelo 'brexit' porque isso seria o fim da sua carreira política e o fim do Reino Unido. Na Escócia a independência ganharia tanta força que seria difícil de travar. Cameron fará campanha pelo sim mas seria mais fácil para ele se lhe oferecessem um pacote de reformas convincente", avisa Fabian Zuleeg, do European Policy Centre, numa altura em que uma das exigências britânicas gera forte polémica: impedir que os imigrantes possam receber apoios sociais nos primeiros quatro anos no Reino Unido. "Os governos dos outros Estados membros não vão aceitar um acordo discriminatório, mas terão de encontrar algo para lhe dar", nota José Ignacio Torreblanca, do European Council on Foreign Relations em Madrid, sublinhando que a negociação "mais importante não é entre Cameron e o resto da UE mas entre Cameron, o seu partido, os eurocéticos e a opinião pública britânica".
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"Portugal tem mostrado disponibilidade para encontrar soluções para as preocupações britânicas", garante Margarida Marques, secretária de Estado dos Assuntos Europeus. "É importante sublinhar que qualquer solução não poderá deixar de salvaguardar os valores e princípios fundamentais da União, nomeadamente no que respeita à liberdade de circulação e ao princípio da não discriminação dos cidadãos europeus", nota, sublinhando que "no domínio da União Económica e Monetária não somos favoráveis à adoção de qualquer mecanismo que conceda direito de veto aos países fora da moeda única relativamente às políticas da zona euro". Já sobre o papel dos Parlamentos nacionais, que Londres quer ver reforçado, diz: "Somos favoráveis a maior participação."
Face ao crescimento do UKIP, à ameaça de alguns militantes, deputados ou até ministros do Partido Conservador em defender o 'brexit' se Cameron não obtiver cedências significativas de Bruxelas, tem uma situação difícil para gerir entre mãos (depois de a promessa do referendo lhe ter garantido a maioria absoluta nas eleições de 7 de maio). "Cameron só pode convocar o referendo para defender o sim", nota Torreblanca, afirmando que "se o Reino Unido sair da UE será por acidente e não por decisão consciente de alguém".
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