Brexit, Bregret... Breback

Publicado a
Atualizado a

A telenovela da saída do Reino Unido da União Europeia continua viva. Esta semana, noticiou-se que estaria próximo um acordo entre Londres e Bruxelas, no quadro do Brexit, relativamente ao trânsito de produtos na fronteira com a Irlanda do Norte. Este é apenas um dos inúmeros entorses que, mal resolvidos ou ainda por resolver, têm gerado confusão e descontentamento entre os súbditos de Sua Majestade.

Três anos depois da saída formal da União, já é possível tirar conclusões mais sólidas sobre as consequências de uma decisão que, ao que tudo indica, terá sido uma aventura política muito mal calculada. Falhou redondamente a profecia de Boris Johnson, quando em 31 de Janeiro de 2020 afirmou que o Reino Unido poderia, finalmente, realizar todo o seu potencial e que a confiança iria crescer a cada mês que passasse.

Os números são arrasadores. O RU é o único país do G7 - o clube dos mais ricos - que ainda não recuperou para o nível do PIB pré-pandémico. As previsões para 2023 são ainda de crescimento negativo, enquanto a União Europeia e todas as economias mais avançadas vão crescer. No pós-Brexit, o investimento caiu significativamente e a taxa de emprego está em baixa. A burocracia de que se queixavam os britânicos, oriunda de Bruxelas, parece ter ainda piorado. Como afirmam alguns economistas, se se colocam mais restrições e controlos no movimento de bens e de pessoas de e para o maior parceiro comercial, algo que inevitavelmente resultaria de uma saída da União, então não é de esperar um terreno fértil para o crescimento das relações comerciais.

Recentemente, John Major, ex-primeiro-ministro conservador, afirmou numa reunião em Westminster que o Brexit foi "um erro colossal". Major enfatizou os riscos de abandonar o bloco europeu, num contexto em que a competição a partir da América e da China, os outros dois blocos que contam, se irá intensificar, quer no plano económico, quer no plano geopolítico. Um RU isolado será sempre mais fraco, mas enfraquece também a União Europeia.

As dificuldades globais que, nos últimos anos, quase todos os países têm enfrentado - pandemia, inflação, guerra, crise energética - fizeram emergir uma solidariedade intrablocos que não se via desde a Segunda Guerra. Os que estão de fora sofreram mais e, manifestamente, não beneficiaram da mutualização do esforço de combate às contrariedades. No caso do RU, os resultados estão à vista em quase todos os setores. O país parece estar a entrar numa decadência que é bem simbolizada pela instabilidade política ao mais alto nível, fazendo o nº 10 de Downing Street parecer uma porta giratória de um hotel.

O clima de arrependimento - já consagrado pela sigla Bregret, que junta Brexit e Regret - faz-se sentir nas sondagens. É já uma maioria a dos que acham que o Brexit foi uma decisão errada. A pergunta de que os políticos britânicos fogem é agora bastante óbvia: deverá ser ponderado um novo referendo para o regresso à União Europeia?

Em abstrato, um movimento Breback - juntando Brexit e Back - poderia ser um tentador programa eleitoral para uma nova cara que ambicionasse ascender a primeiro-ministro. Implica, contudo, um risco tremendo, que é o de convocar o povo britânico para uma grande humilhação perante o resto da Europa. E se há algo que a História nos ensinou é que o RU não é dado a desonras.


Professor catedrático

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt