Brexit a 31 de outubro vai para a frente seja como for, insiste Boris

O primeiro dia da conferência do Partido Conservador britânico em Manchester ficou marcado por duas grandes manifestações e pelas entrevistas concedidas pelo seu líder e primeiro-ministro à <em>BBC</em> e ao <em>Telegraph</em>. Na qual garante que saída sem acordo é possível mesmo após o parlamento ter imposto um adiamento se não houver acordo. E que não tenciona demitir-se.
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"O Reino Unido ainda pode sair da UE a 31 de outubro sem um acordo?"

"Claro que pode."

À pergunta do jornalista Andrew Marr, que o confrontava neste domingo de manhã na BBC com a decisão do parlamento de requerer um adiamento do Brexit caso não existisse um acordo até 19 de outubro, Boris Johnson, que tem apelidado a resolução parlamentar de "ato de rendição", numa linguagem belicista que está a ser muito criticada por poder propiciar violência, respondeu "Claro."

E prosseguiu certificando que não tenciona demitir-se: "Aceitei liderar o partido e o país numa altura difícil, e vou continuar a fazê-lo. Acredito que é a minha responsabilidade fazê-lo e que faz parte dela concluir o Brexit a 31 de outubro e avançar com o país para além disto."

Questionado sobre se entrou em negociações com algum país da UE para que vete uma extensão do artigo 50 de modo a assegurar que o Reino Unido tenha mesmo que sair a 31 de outubro, Johnson não quis responder, como não respondeu sobre as estratégias que o governo estará a explorar para dar a volta à resolução do parlamento. Mas afirmou: "É decerto verdade que os outros países da UE também não querem que isto continue a arrastar-se."

Ao Sunday Telegraph, ao qual deu também uma entrevista, Johnson não confirmou nem desmentiu a notícia do Sunday Times que revelava que ele teria pedido desculpa à rainha por tê-la feito assinar a ordem de suspensão do parlamento que o Supremo Tribunal veio a considerar nula. Mas qualificou a decisão do tribunal de "peculiar".

As entrevistas marcaram o primeiro dia da conferência anual do Partido Conservador, em Manchester, onde, sob chuva, ocorreram duas grandes manifestações, a primeira contra a austeridade e a segunda contra o Brexit, ambas muito contra os Tories.

No início da conferência, o ministro da Saúde, Matt Hancock, anunciou que vão ser gastos 13 mil milhões de libras em projetos de 40 novos hospitais (na verdade, seis já existem e o plano prevê reestruturá-los) -- o que traz à memória um dos principais pontos da propaganda da campanha do Brexit, de que com a saída da UE seria possível investir 350 milhões por semana no Serviço Nacional de Saúde, promessa que logo na manhã seguinte ao dia do referendo uma das principais caras do Leave, Nigel Farage, admitiu ser "um erro".

Deverão continuar esta semana as conversações sobre um dos pontos fulcrais do Brexit -- a fronteira entre as duas Irlandas. Até agora ainda não foi afastada a possibilidade de regresso de uma fronteira fechada caso um acordo entre a UE e o Reino Unido não mantenha um mercado livre.

Arlene Foster, líder do DUP (Democratic Unionist Party, ou Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte), um aliado dos Tories que é visto como fundamental para viabilizar qualquer acordo de saída, declarou na conferência que a Irlanda do Norte não pode ser tratada de forma diferente do resto do RU.

Na última sondagem conhecida, o Partido Trabalhista subiu dois pontos percentuais mas os conservadores continuam com uma larga vantagem de 12%, apesar de Johnson ter perdido a maioria no parlamento. A existência de eleições antecipadas parece cada vez mais provável.

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