Brasileiras queixam-se da falta de confiança dos patrões

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Imigração. São brasileiras, vivem em Setúbal e dizem que, desde Agosto, há várias pessoas que dispensaram os seus serviços de limpeza. Atribuem a falta de trabalho ao aumento da criminalidade imputada a esta comunidade. O fenómeno ainda não contagiou outras regiões do País

Algumas mulheres brasileiras a viver em Setúbal dizem ter dificuldade em encontrar trabalho nas limpezas em casas particulares. As portas começaram a fechar-se em Agosto e à medida que a criminalidade imputada a indivíduos desta comunidade surgiu na Margem Sul. O fenómeno terá aumentado quando um jovem de 20 anos, com cadastro no Brasil, matou o proprietário da ourivesaria "Jóias Bocage". E agravou-se nas últimas semanas com as notícias sobre a existência de crime organizado a envolver alegadas mafias das favelas do Brasil, que residirão na região.

Solange Madar é a única que não esconde a cara nem o nome, mas a sua história confunde-se com as das restantes cinco mulheres que num dia de semana estão sentadas num dos bancos do bairro da Fonte Nova - onde vive a maior comunidade brasileira de Setúbal - porque "não há casas para limpar."

A Associação Brasileira de Portugal (ABP) está a par da situação e diz que já esperava esta reacção da população portuguesa quando veio a público a notícia da criação do Primeiro Comando de Portugal, inspirado no Primeiro Comando da Capital, formado em 1990 por um grupo de prisioneiros de São Paulo. "Sabemos que não há organização nenhuma, mas é natural que agora se comecem a acentuar este tipo de problemas, penalizando as pessoas que precisam de trabalhar", alerta o presidente da ABP, Ricardo Pessôa, lamentando que "tenha sido dada uma má imagem dos brasileiros, provocando receios, sobretudo junto dos mais idosos."

A aventura de Solange Madar, 34 anos, começou em 2003. Em apenas dois meses angariou seis casas particulares onde trabalhava como doméstica. Mas desde o passado Verão que se depara com falta de trabalho, mesmo reduzindo os preços a três e quatro euros à hora, quando a maioria cobra entre cinco a seis euros.

Em Maio Solange ainda tinha motivos para sorrir. Trabalhava em seis habitações e um café, que lhe ocupavam todo o dia. "Ganhava 700 euros", conta, lamentando que entre Agosto e Setembro quatro pessoas a tenham dispensado. "Queria ter os meus filhos perto de mim, mas assim é impossível", desabafa, enquanto aponta para as colegas: "Elas estão na mesma".

"E não será da crise económica?", questionamos. A mais velha do grupo, com 44 anos, responde: "Se fosse falta de dinheiro, as pessoas não iam logo procurar outras que cobram mais caro, como já aconteceu."

Almada

O caso destas cinco brasileiras radicadas em Setúbal parece não ter contagiado outras regiões do país. A mão-de-obra barata será a principal razão para o desemprego não atingir os brasileiros a residir na Costa de Caparica, em Almada. António Pires, sacerdote da paróquia desta freguesia, trabalha junto da comunidade desde 2001 e garante que as imigrantes que vieram do Brasil são as mais procuradas para cuidar dos idosos que vivem sozinhos.

Com uma população estimada entre as quatro e as cinco mil pessoas, a "esmagadora maioria" encontra-se integrada no mercado de trabalho da construção civil (homens) e nas limpezas - no caso das mulheres. Os casos de pobreza são aliás "muito mais severos" entre os portugueses do que entre os brasileiros, esclarece o padre: "Na comunidade brasileira, não tenho nenhum pedido de ajuda, a não ser em situações pontuais de imigrantes que acabaram de chegar e precisam de algum apoio." .

Algarve

E há até quem tenha negócios cada vez mais prósperos. Ester Santos, imigrante brasileira criou, há quatro anos, uma empresa em Lagos ligada ao sector de limpezas gerais de apartamentos, vivendas e estabelecimentos comerciais. O número de brasileiras que trabalham com esta empresária de 40 anos varia consoante a procura pelos serviços: "Ora tenho uma empregada, ora tenho três, mas há sempre muito trabalho." Muitos dos proprietários das moradias são do Norte do país que passam as férias de Verão no Algarve.|

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