Brasil tem de ser mais forte que os criminosos
A um mês de tomar posse como Chefe do Estado do Brasil, Dilma Rousseff tem desde já pela frente o primeiro grande teste ao seu mandato: o combate aos múltiplos actos de delinquência urbana, provocados por gangues ligados ao crime organizado, que incendeiam os dias e as noites no Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa, que nos últimos anos fazia gala em mostrar ao mundo uma imagem mais tranquila e mais segura, volta a ser palco de aparatosos actos de violência - ao ponto de o Governo Federal, correspondendo a um pedido do governador do Rio, ter já dado luz verde ao envio de 800 militares para ajudarem os efectivos policiais a travar a espiral de crimes.
Os problemas relacionados com o crime na segunda mais populosa cidade do Brasil não se resolvem apenas com repressão. Mas nesta fase não existe alternativa ao pulso forte das autoridades. Sob pena de o Rio ver irremediavelmente comprometida a boa imagem que foi construindo nos últimos anos como cidade sede de megaeventos desportivos. Já em 2011 se realizarão ali os jogos mundiais militares. Em 2014, o mítico estádio do Maracanã será o palco da final do Campeonato do Mundo de Futebol. E o Rio de Janeiro albergará os Jogos Olímpicos de 2016. Um conjunto de iniciativas que implicam e exigem condições reforçadas de segurança público. O desporto, um dos mais poderosos traços de união entre os homens, é incompatível com as teias do crime. Também por isso, é urgente limpar de vez a face do Rio.
Mesmo velhos inimigos podem fazer as pazes
Depois de Mikhail Gorbachev ter reconhecido em 1990 a responsabilidade soviética no massacre de Katyn, as últimas dúvidas sobre a morte de 22 mil membros da elite polaca ficaram de vez esclarecidas, acabando-se com a velha tese da autoria nazi. Mas mesmo assim tem um peso político muito especial a decisão ontem do parlamento da Rússia - Estado herdeiro da União Soviética no plano das relações internacionais - de admitir oficialmente ter sido Estaline o mandatário da matança de 1940, quando Moscovo combatia na Segunda Guerra Mundial, mas pensava já numa Polónia sob jugo comunista, como veio de facto a acontecer após 1945. Um reconhecimento de responsabilidade que ajuda, e muito, ao esforço de aproximação entre a Rússia e a Polónia, que vem já do ano passado e que foi marcado pelo trágico acidente que matou o Presidente Lech Kaczynski quando voava a caminho da cidade russa de Katyn a convite do seu homólogo russo, Dmitri Medvedev, exactamente para uma cerimónia de homenagem aos militares assassinados pela polícia especial moscovita, a NKVD, antepassada da célebre KGB.
Polónia e Rússia têm um longo historial de inimizade. Combateram--se em várias guerras e longos períodos os polacos estiveram submetidos ao Kremlin. Aconteceu na era czarista, aconteceu também na era soviética, quando a Polónia era um mero satélite de Moscovo. E essa inimizade nos tempos recentes chegou a gerar tensão entre a NATO, aliança que Varsóvia passou a integrar, e a Rússia, sempre desconfiada de um vizinho histórico que com os seus 40 milhões de habitantes não é um adversário a menosprezar mesmo por uma ex-superpotência. Ora, a aproximação entre polacos e russos, só possível depois de sarada a ferida de Katyn, é essencial para o enterrar definitivo da Guerra Fria, um passo que foi dado em boa medida na recente cimeira da NATO em Lisboa. Dia 5, Medvedev visitará Varsóvia. Tudo indica que será recebido como nunca antes outro líder russo. E isso será um sinal muito importante para o mundo - as mais velhas rivalidades podem ser ultrapassadas se houver vontade para tal.