Brasil nega golpe de 1964 e diz à ONU que militares afastaram ameaça comunista
"Garantir a preservação das instituições nacionais, no contexto da Guerra Fria" é outro dos argumentos usados no telegrama enviado hoje pelo ministério das Relações Exteriores do Brasil a Fabian Salvioli, relator das Nações Unidas para a promoção da verdade e justiça, a que a BBC News Brasil teve acesso.
O texto do executivo brasileiro é uma resposta às críticas feitas por Fabian Salvioli na última sexta-feira, em que classificou como "imorais e inadmissíveis" os planos do Governo para celebrar a data que deu início ao período de ditadura no país sul-americano.
"Comemorar o aniversário de um regime que trouxe tal sofrimento para a população brasileira é imoral e inadmissível numa sociedade baseada no Estado de Direito", afirmou o relator da ONU.
Na resposta, o Governo brasileiro explica que se trata de críticas "sem fundamento" e que aquela autoridade das Nações Unidas "deve respeitar os processos nacionais e procedimentos internos nas suas deliberações", segundo a BBC News Brasil.
Segundo o telegrama do Itamaraty, nome como é conhecido o Ministérios das Relações Exteriores brasileiro, o "Governo defende o direito à liberdade de expressão e de pensamento e saúda o debate público sobre os eventos ocorridos no período 1964-1985 no Brasil".
"O Presidente [Jair Bolsonaro] reafirmou em várias ocasiões que não houve um golpe de Estado, mas um movimento político legítimo que contou com o apoio do Congresso e do [poder] Judiciário, bem como a maioria da população. As principais agências de notícias nacionais da época pediram uma intervenção militar para enfrentar a ameaça crescente da agitação comunista no país", diz ainda o documento.
A BBC News Brasil adianta que o conteúdo do texto foi confirmado por membros do Governo de Bolsonaro e por fontes da ONU.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, propôs ao Ministério da Defesa que recordasse, no passado fim de semana, o 55.º aniversário do golpe de Estado ocorrido entre 31 de março e 01 de abril de 1964.
Durante o período em que foi deputado federal, Jair Bolsonaro sempre defendeu que o Brasil não viveu uma ditadura entre 1964 e 1985, mas sim um "regime com autoridade".
Bolsonaro chegou ainda a homenagear em plenário o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela justiça de São Paulo como torturador durante o regime militar.
Para o atual chefe de Estado do Brasil, Ustra é um "herói brasileiro".
A ideia de voltar a celebrar a data do golpe militar no Brasil gerou inúmeras críticas dentro e fora do país, além da convocação de atos de repúdio.