Brasil: já se fala em antecipar eleições para outubro
Recebida com desconfiança e surpresa no início, a sugestão de Valdir Raupp, influente senador do PMDB, pode afinal agradar a todas as forças com ambições de poder no Brasil: antecipar as eleições presidenciais de 2018 para outubro deste ano, e realizá-las em paralelo com as municipais. O princípio de Raupp é que, aconteça o que acontecer na votação do impeachment em meados deste mês, quer Dilma Rousseff continue quer Michel Temer a substitua, nada nem ninguém pacificará o país. Só o voto, o mais depressa possível, legitimaria um novo presidente e tranquilizaria a economia.
"Michel Temer ligou-me há uma semana a dizer "Raupp, eu não quero ser presidente nestas condições, com impeachment ou sem impeachment isto não vai acabar bem"", disse o senador, ao apresentar aos colegas a sua solução.
As primeiras vozes foram contrárias. Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados e também do PMDB, considerou o plano "uma utopia". "Não dá para aprovar e criar uma emenda que cerceia direitos agora, temos de parar de enganar a população lançando ideias utópicas sem resultados práticos", disse, lembrando que seria necessária uma proposta de emenda constitucional (PEC) para juntar, como defende Raupp, eleições presidenciais e eleições municipais já em outubro deste ano.
Orlando Silva, do PC do B, partido aliado do PT no governo, defendeu que "o objetivo é criar um factoide político para tirar Temer da mira, exposto em demasia ao liderar o desembarque do PMDB do governo".
Mas, aos poucos, o princípio de Raupp ganhou adeptos. Um bloco de nove senadores de outras forças, como o PSB ou o PPS, ambos da oposição, e do Rede Sustentabilidade, da ambientalista Marina Silva, e um grupo de governadores de diferentes cores políticas, ponderam apresentar, tal como Raupp, uma PEC nesse sentido. Membros do PT contactados pela imprensa também não consideram a solução desprezível. A ideia foi ainda defendida no editorial de domingo do jornal mais lido do país, o Folha de S. Paulo.
Ontem, o Rede lançou o slogan "Nem Dilma, nem Temer, Nova Eleição é a Solução", resumindo a uma frase o que a sua líder, Marina Silva, vem defendendo: que em vez de cair só Dilma por causa das pedaladas fiscais, sejam destituídos em bloco a presidente e o seu vice-presidente Michel Temer por causa de irregularidades cometidas na campanha sob investigação do Tribunal Eleitoral.
Para Marina, eleições o mais depressa possível viriam a calhar: ela liderava as sondagens do Instituto Datafolha do mês passado em qualquer cenário. À ala do PSDB que defende a candidatura do presidente do partido Aécio Neves, a sugestão também é vantajosa: depois de alcançar 48% dos votos nas últimas eleições, ninguém mais do que ele estaria em condições de voltar a concorrer ao Planalto. E, mesmo o PT, veria com bons olhos aproveitar o regresso da militância às ruas na sequência dos últimos acontecimentos para lançar as bases de uma candidatura de Lula. Ao PMDB, qualquer conjuntura interessa porque sente que ninguém pode constituir governo sem o seu apoio.
Enquanto isso, nem abdicando de presidir ao seu partido, oferecendo ontem o lugar ao vice-presidente Romero Jucá, Michel Temer consegue resguardar-se do noticiário. Marco Aurélio Mello, um dos 11 juízes do Supremo, determinou que a Câmara dos Deputados aceite um impeachment contra o vice-presidente da República pedido pelo advogado Mariel Marra. Eduardo Cunha, no entanto, arquivou outro pedido nesse sentido protocolado por Cid Gomes, ex-ministro da Educação.
Na operação Lava-Jato, o juiz Sergio Moro ordenou a prisão preventiva de Ronan Maria Pinto e Sílvio Pereira, na sequência da 27.ª fase da investigação. Defende Moro que o empresário da comunicação social e o ex-secretário-geral do PT receberam subornos da Petrobras que podem ter ligação com o assassínio, em 2002, de Celso Daniel, um prefeito petista que supostamente sabia demais sobre um caso de corrupção na região metropolitana de São Paulo.
Em São Paulo