Brasão chega às Antas com francesinha "à antiga" e esplanada de charme
A perder protagonismo nos últimos anos para novas centralidades da cidade, a Praça Velasquez - como continua a ser mais conhecida a Praça Dr. Francisco Sá Carneiro - pode voltar a sentir-se foco de atenção dos olhares de novos ou resgatados admiradores. Bem em frente, no 1530 da Avenida Fernão de Magalhães, a esplanada alteada da nova Brasão Antas serve de varanda privilegiada sobre o jardim da praça, um surpreendente miradouro que recupera o charme daquela que já foi uma das mais requintadas imagens postais do Porto.
A esplanada promete tornar-se um hotspot da Primavera/Verão portuense nesta zona oriental, com o Estádio do Dragão como vizinho próximo, e é uma das ofertas distintivas deste quinto restaurante da cadeia que tem conquistado os portuenses (e quem visita a cidade) desde 2014. Mas não é a única. Para a mesa, a Brasão Antas recuperou uma antiga versão da iguaria obrigatória em qualquer cervejaria do Porto, da mais modesta à mais requintada: a sacrossanta francesinha, pois claro.
Aqui, a estrela principal é a "Francesinha à Antiga", que pretende honrar a memória de uma receita original da Regaleira, com carne assada em vez de bife. O protagonista é o lombo de cachaço de porco que se acomoda suavemente na boca, rodeado por ovo, enchidos, queijo e o indispensável molho de francesinha, feito com tomate e cerveja. Criada propositadamente para a Brasão Antas, só se come aqui e no restaurante da Foz. "É um clássico do receituário portuense e transporta-nos ao saudosismo da confeção tradicional", refere Rui Martins, que em 2016 ganhou o galardão de chef cozinheiro do ano e é o atual diretor gastronómico do grupo.
A evocação mais clássica do popular prato portuense casa com a localização desta casa, quase nove anos depois da abertura da primeira Brasão, junto à Avenida dos Aliados - a família cresceu entretanto, com as Brasão Coliseu, Foz e Salgueiros (Gaia), a que se junta agora esta irmã mais nova, numa zona residencial mais tradicional. "Surge para responder a uma necessidade de usufruir de um espaço mais recatado, longe da azáfama do centro, mas a apenas cinco minutos de distância, que permite responder a outro tipo de público, mais tradicional", enquadra Rui Martins.
Com portas abertas desde final do ano passado, a Brasão Antas assentou na esquina onde jaziam as memórias do antigo café Estádio, que durante décadas foi um dos pontos de encontro dos adeptos do FC Porto, e embelezou este troço da Fernão de Magalhães, com o complexo de ténis Monte Aventino de um lado e o Jardim Velasquez em frente. De resto, a cervejaria destaca-se na paisagem visual graças à elegante fachada curva e envidraçada que à noite ganha ainda maior relevo com a iluminação que faz realçar a decoração que é já imagem da marca: as madeiras escuras, o ferro forjado, a pedra e mosaico hidráulico, elementos que combinam a robustez e conforto comuns aos espaços Brasão.
À mesa, a Brasão Antas (com duas salas interiores, em diferentes pisos, além da esplanada) mantém também as características que fizeram desta cadeia um apreciado santuário de experiências gastronómicas, da criatividade dos pratos ao cuidado na escolha das matérias-primas, um serviço atencioso e conhecedor e uma panóplia de cervejas locais, artesanais e internacionais (a honrar a alma de cervejaria), além de uma seleção cuidada de vinhos e espumantes.
Obviamente, nem só da francesinha - seja à Antiga (13,70 euros) ou à Brasão (13,20) - vive o restaurante. A base do menu segue "a estrutura das outras casas" do grupo, à qual se somam "alguns pratos pensados especificamente para o contexto próprio de cada uma, numa lógica de evolução constante", explica Rui Martins.
Para começar, há vários petiscos, como a gama de rissóis, com código de cores: preto no caso do de carne, cogumelos e trufa servido no jantar em que o DN esteve presente; verde para o vegetariano, recheado com puré de curgete, cogumelos e feijão; e vermelho intenso para o Picante do Diabo. A cebola frita mantém-se um ex-libris da casa e é uma experiência viciante e obrigatória.
Maioritárias na lista, as carnes são de eleição, desde o bife tártaro preparado com vinha de alhos e acompanhado com um puré elaborado com feijão, curgete e cogumelos, ao irrepreensível naco da vazia laminado com salada de laranja e batatas chip, que pode chegar acompanhado de uma seleção de molhos extra, à escolha: de cebolada, à portuguesa, com cogumelos e com queijo da Serra.
Nos pratos de peixe, domina o bacalhau: assado com cebolada ou à cervejeiro. Quatro propostas vegetarianas ampliam a diversidade do menu. Nas sobremesas, provou-se a fresca tarte de limão merengada, a mousse de chocolate e as natas do céu, cativando os sentidos até ao final da experiência.
Suspensa a aventura d" O Paparico, restaurante que em 2008 deu origem ao grupo liderado por Sérgio Cambas, o Grupo Prumo reforça a linhagem Brasão - que tem prevista a abertura de novo espaço, mais dedicado a grupos e eventos, no quarteirão da Batalha - e prepara a estreia de um novo conceito de restaurantes temáticos, Culto, para "honrar e perpetuar a Cozinha Tradicional Portuguesa". A aventura começa com o Culto ao Bacalhau, com anunciada abertura iminente no Mercado do Bolhão. Depois chegarão, faseadamente, o Culto ao Mar, à Carne e ao Petisco.
Rui Martins confessa também esperar concretizar este ano um velho sonho: "uma padaria, com restaurante associado, mas com o pão como figura central da história". Mas, para já, é tempo de apreciar a abertura deste Brasão Antas.