Boris vs. George. Está dado tiro de partida para suceder a Cameron

Primeiro-ministro anunciou no congresso dos Tories que não será candidato a terceiro mandato
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A culpa é de David Cameron. O primeiro-ministro britânico já tinha dito numa entrevista antes das eleições de maio que não iria concorrer a um terceiro mandato em 2020 e no congresso do Partido Conservador, no início deste mês em Manchester, confirmou-o: "Estou a começar a segunda parte do meu trabalho. Não vou disputar outras eleições como vosso líder." E dessa forma deu um tiro de partida (há quem diga um tiro no pé) na maratona para escolher o sucessor à frente dos Tories - e talvez do governo. Nos metros iniciais, os dois favoritos à vitória são o presidente da câmara de Londres, Boris Johnson, e o ministro das Finanças, George Osborne. Mas a corrida ainda vai no início.

No congresso dos conservadores, o primeiro-ministro não só anunciou que não se vai candidatar como deu destaque aos dois pretendentes (ainda não oficiais) à sua sucessão. Em relação àquele que se considera ser pessoalmente o seu favorito, George Osborne, Cameron apelidou-o de "chanceler de ferro", numa referência à forma como era descrita a primeira-ministra Margaret Thatcher (dama de ferro). Mas não esqueceu Boris Johnson: "Ele serviu este país. Ele serviu este partido. E ainda há muito mais para vir." E houve uma ovação na sala.

Curiosamente, segundo uma sondagem Ipsos-Mori ainda a cinco anos de uma possível disputa eleitoral, Osborne é o favorito entre os eleitores conservadores, com Johnson a ter mais apoio quando se tem em conta o público em geral. O ministro das Finanças conquista 32% do apoio do eleitorado dos Tories, com Johnson a ficar-se pelos 29%. A ministra do Interior, Theresa May, outra possível candidata (mas no boletim de voto só pode haver dois nomes), aparece distante, com 18%. Mas, quando todos os eleitores são tidos em conta, o mayor de Londres surge destacado, com 27% de apoio. Osborne tem apenas 15%, abaixo até de May, com 17%.

Diferenças

Ambos passaram por Oxford, começaram a carreira no jornalismo e são casados, mas as semelhanças entre Johnson, de 51 anos, e Osborne, de 44 anos, ficam-se por aí. As diferenças entre ambos ficaram bem patentes nos discursos que fizeram no congresso dos Tories. O presidente da câmara apostou na personalidade extravagante - gosta de despentear o cabelo quando vai falar em público e envolve-se muitas vezes em situações hilariantes - para cativar os delegados, que o aplaudiram de pé e riram às gargalhadas (incluindo Cameron) com as piadas que foi lançando contra o Partido Trabalhador e o seu novo líder, Jeremy Corbyn.

Já o ministro das Finanças, mais sério, apostou em mostrar aos delegados os resultados da política conservadora. Osborne é considerado o arquiteto das medidas de austeridade do Reino Unido, apontadas como a razão da maioria absoluta dos Tories em maio. E defendeu que o Partido Conservador é "o verdadeiro partido dos trabalhadores", citando um antigo líder do Labour ao dizer "somos construtores", numa tentativa de apelar ao eleitorado trabalhista. Curiosamente, o ministro tem sido comparado ao desenho animado "Bob o construtor", por ser muitas vezes visto em público com capacete de segurança nas visitas a várias obras pelo país.

Mas Johnson não se ficou apenas pelas piadas e também soube ser sério, criticando precisamente os planos do ministro das Finanças de cortar nos subsídios dados às famílias mais pobres - quando Cameron tinha prometido que não seriam afetados. "Temos de garantir que, na reforma do sistema de segurança social, protegemos os trabalhadores e os que recebem salários mais baixos", afirmou, lembrando que melhorou a vida das famílias mais pobres da capital.

Eleito em 2008 e reeleito em 2012 para a câmara de Londres, Johnson anunciou que não seria candidato a um terceiro mandato em 2016. Em maio regressou ao Parlamento, por onde já passara entre 2001 e 2008. Cameron já indicou que, quando sair da câmara, entrará no governo. No currículo, Johnson tem os cargos de ministro-sombra das Artes e da Educação Superior, quando o trabalhista Tony Blair estava no poder.

E se Johnson pode ser sério, Osborne tem-se esforçado por apresentar o seu lado mais pessoal, de forma a conquistar mais eleitorado. No início do mês, deu uma entrevista ao The Mail on Sunday revelando, por exemplo, como se apaixonou pela mulher quando tentava fazer de cupido para um amigo que gostava dela, que a filha o proibiu de a acompanhar a um concerto da Taylor Swift por não ser cool ou que deu as roupas à caridade após perder 12 kg numa dieta, já que nunca mais vai ser "gordo e flácido".

Questionado diretamente sobre o desejo de suceder a Cameron, disse que caso o primeiro-ministro suspeite que ele está a concentrar-se mais em chegar ao número 10 de Downing Street do que em tratar das Finanças britânicas, o devia despedir. "Devo-lhe desempenhar o meu papel o melhor que possa até ao dia em que ele deixar de ser primeiro-ministro", indicou, dizendo que depois disso vai ver como correm as coisas.

Outro tema que promete dividir Johnson e Osborne é a Europa. O Reino Unido prepara-se para uma discussão sobre a adesão à União Europeia e para um referendo em 2017. E se Osborne é o rosto das negociações com Bruxelas e deverá ser o responsável pela campanha do "sim", de continuar a ligação à UE, Jonhson ainda não se pronunciou sobre o tema, mas sempre foi visto como mais eurocético, sendo provável que acabe do lado do "não".

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