"Na UE sempre que um referendo vai contra o objetivo federalista arranjam forma de o país fazer o que eles querem"
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, desferiu duras críticas ao Labour de Jeremy Corbyn num evento à margem da conferência anual do Partido Conservador em Birmingham.
Tentando provar que os conservadores são a melhor opção para o Reino Unido, nomeadamente nas questões da habitação, Boris Johnson traçou um cenário apocalíptico se os trabalhistas, agora na oposição, chegassem ao governo. "Eles iriam gastar centenas de milhões na nacionalização da indústria britânica. Eles iriam destruir a economia. O controlo estatal não é melhor. Ouvi Corbyn na semana passada. Ele não disse nada o sucesso empresarial britânico".
O ex-chefe da diplomacia britânica demitiu-se do governo de Theresa May por discordar com Chequers, que o governo da primeira-ministra acordou como proposta a Bruxelas sobre a saída do Reino Unido da UE. Chequers contempla um plano de brexit mais suave, que passa por propor à UE a criação de uma zona de comércio livre de bens após a saída, o que evitaria controlos aduaneiros, mantendo aberta a fronteira com a República da Irlanda, contornando o regresso de uma fronteira dura entre este país e a Irlanda do Norte (província autónoma que pertence ao Reino Unido).
Os defensores do brexit duro veem Chequers como uma submissão dos britânicos a Bruxelas e um recuo na promessa feita pela primeira-ministra de que, após 29 de março de 2019, o Reino Unido sairia do mercado único. Defendem uma rutura sem acordo com Bruxelas - se necessário for - e uma submissão do Reino Unido, sim, mas às regras gerais da Organização Mundial do Comércio (OMC). Johnson sublinhou as oportunidades que daí viriam.
"95% do crescimento mundial vai estar fora da UE. Claro que a UE será sempre importante para nós. Mas o resto do mundo também é importante. O Reino Unido é o segundo maior investidor no Peru. Isto é só o início. Imaginem o que podíamos fazer se tivéssemos os acordos comerciais certos e, por isso, é muito triste ver os acordos a que ficaríamos obrigados por Bruxelas. É um erro uma saída [do Reino Unido da UE] segundo os termos da proposta de Chequers. Isso é humilhante para uma economia como a nossa. Não foi por isso que votámos. Isso não é ter o controlo de volta. Eles sabem isso em Bruxelas. O que querem mostrar, a qualquer outro país que pense em sair da UE, é que não é possível sair da UE sem sofrer consequências políticas e económicas adversas".
Boris Johnson, ex-jornalista em Bruxelas, foi perentório em exemplificar como funciona a União Europeia: "Eu sigo a UE há mais de 50 anos. Sempre que um referendo vai contra o objetivo federalista as forças centrípetas arranjam forma de o país fazer o que eles querem". Foi isso que aconteceu na Irlanda, por exemplo, quando disse "Não" ao Tratado de Lisboa. Teve que votar uma segunda vez.
"Os que agora falam num segundo referendo são os mesmos que, em 2016, disseram às pessoas que se votassem pelo brexit nunca mais teriam de votar de novo. 'Não' seria mesmo 'Não'. E agora falam num novo voto. Isso seria desastroso. As pessoas veriam que apenas estão a votar, a votar, até darem à UE a resposta que ela quer. Não podemos respeitar o voto da Escócia sobre a independência do Reino Unido e depois querer repetir o voto do Reino Unido sobre a UE".
"Abandonem Chequers", disse, sem rodeios, Boris Johnson, sobre a proposta de May. Essa foi também já criticada pela própria UE e, até ao Conselho Europeu de dia 18, a líder conservadora precisa de novas ideias. "Se falharmos agora no brexit", acreditem em mim, "as pessoas não nos vão perdoar". "Se enganarmos as pessoas - e Chequers é um engano - quem irá beneficiar disso será uma extrema-direita reforçada na forma do Ukip [partido de Nigel Farage] e uma extrema-esquerda na forma de [Jeremy] Corbyn".
Voltando às acusações a Corbyn, Johnson afirmou que o líder do Labour "recebe dinheiro da televisão do Irão", recusa criticar a Rússia e agora aparece a falar "num segundo referendo" sobre o brexit.
Por isso, sublinhou, "vamos apoiar Theresa May, da melhor forma possível, mas nas suas ideias originais". Johnson foi amplamente aplaudido e o evento em que participou esteve completamente lotado.
Antes de Boris Johnson, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que, após o brexit, o Reino Unido terá, pela primeira vez em décadas, o controlo da imigração, adiantando que reduzirá a entrada de trabalhadores pouco qualificados.
Em entrevista à BBC, em Birmingham, a líder dos conservadores adiantou que o seu país adotará um novo sistema de vistos que privilegiará a formação dos trabalhadores imigrantes em vez do país de origem.
"O novo sistema, baseado na qualificação, assegurará que se reduz a imigração de pessoas pouco preparadas e que o Reino Unido inicia o caminho de uma redução da imigração para níveis sustentáveis, como prometemos".
A primeira-ministra conservadora descartou a possibilidade de realização de eleições antecipadas ou de um referendo sobre o acordo que vier a ser alcançado entre o Reino Unido e a União Europeia.
"Não serve o interesse nacional realizar eleições gerais. Os eleitores votaram em 2016. As pessoas votaram para deixar a UE", insistiu May, depois de, nos últimos dias, a imprensa britânica ter levantado a possibilidade de eleições antecipadas perante a incerteza nas negociações sobre o brexit.
Criticou também a oposição, depois de o Partido Trabalhista ter admitido a possibilidade de apoiar um novo referendo.
"O Partido Trabalhista tem de deixar de jogar com a política e começar a atuar a favor do interesse nacional. Vimos o Partido Trabalhista dizer que, basicamente, não aceitará nenhum acordo que [o governo] traga da UE, independente de quão positivo seja para o Reino Unido".
Teresa May discursará quarta-feira na conferência anual do Partido Conservador, encerrando a reunião anual do partido no poder no Reino Unido.