"Borg/McEnroe", uma batalha perfeita para abrir Toronto

Início em beleza do Festival de Toronto com "Borg/McEnroe" . O novo de Stephen Frears, "Victoria e Abdul", foi também um dos destaques.
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Há uma coisa que nunca muda no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF): o civismo. Os canadianos são mestres na arte de esperar em filas para ver filmes ou simplesmente assistir ao circo da red carpet.

Neste primeiro fim de semana, há uma avalancha de estrelas para aumentar os decibéis na rua King, onde o trânsito é interrompido para gente como Carey Mulligan, Helen Mirren, Angelina Jolie, George Clooney, Lady Gaga ou Jessica Chastain promoverem os novos trabalhos. A cidade está em festa e ninguém leva a mal pagar cerca de 20 euros por um bilhete.

A festa não ficou manchada pelo filme de abertura, Borg/McEnroe, de Janus Metz, um olhar nórdico sobre a rivalidade entre os tenistas John McEnroe e o lendário Bjorn Borg. É talvez um dos melhores filmes sobre desporto (se calhar, é mais um thriller psicológico) dos últimos anos e centra-se na final de Wimbledon de 1980 onde o sueco tentou o penta.

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O que é notável aqui é que, mesmo com o recurso a truques de flashbacks de infância e o invariável clímax final, há um suspense muito bem gerido e uma vibrante ideia de estudo psicológico entre dois campeões que não poderiam ter mais contrastes. De um lado, a frieza de Borg, do outro a erupção de McEnroe. Um filme sempre espicaçado e com detalhes de montagem absolutamente enérgicos. Saímos da sala a respirar fundo nesta hora e quarenta minutos.

Outros dos trunfos desta "história verídica" foram as escolhas do elenco. Shia LaBeouf canaliza a sua rebeldia de rock star para McEnroe e o sueco Sverrir Gudanason, cara chapada de Borg, é um muito credível campeão.

Borg/McEnroe é um verdadeiro crowd-pleaser que parece ter sido escolha certa para a sessão inaugural, mesmo sendo falado na maioria em sueco. Há um fascínio nas personagens, na sua iconografia, que não se explica. Em Portugal, estreia já nesta rentrée.

Habitué do festival é Stephen Frears, que volta a Toronto agora com um dos filmes mais mediáticos do Festival de Veneza, Victoria e Abdul, já na linha da frente para a temporada dos prémios. Na verdade, depois de o vermos percebe-se que esta produção inglesa pode chegar aos Óscares mas apenas na categoria de melhor atriz, onde temos uma imensa Dame Judi Dench a fazer de Rainha Victoria.

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A grande dama dos palcos ingleses é soberba na pele da rainha inglesa nos seus últimos tempos de vida. Dench carrega o filme todo aos ombros, como se Frears nem quisesse saber do resto - fica-se com a ideia de que nestas produções BBC o cineasta só está interessado nos atores...

Victoria e Abdul é uma especulação entre uma amizade pouco conhecida entre a rainha e um criado que veio da Índia para lhe presentear uma moeda comemorativa. Por ser supostamente "terrivelmente bonito", Sua Majestade quis que ele fosse o seu criado mais próximo e, mais tarde, o seu professor particular, coisa que causou constrangimentos substanciais em toda a corte.

O filme é guiado através de uma intencional ligeireza de humor e segue à risca os predicados da comédia acessível ao chamado "público sénior", uma das especialidades de Frears. Tudo é muito simpático, tudo muito polido, conforme dá jeito na evocação de histórias de amizade. O verdadeiro Frears que nos encantou em A Rainha só aparece realmente quando em certas sequências faz espantosos jogos com close-ups da Rainha e do indiano.

Victoria e Abdul é o típico exemplo de gala inofensiva que neste festival encanta as massas. Vai ser um imenso caso de popularidade, apostamos. Em Portugal, este charme de humor britânico chegará já no próximo dia 28.

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