Bombeiros entopem linha de emergência 117
Linha gratuita usada para poupar dinheiro, admitem bombeiros
O número gratuito para alerta de incêndios, o 117, está a ser usado pelos bombeiros para comunicações internas. Assim, a linha que devia estar ao serviço da população para transmitir avisos de fogo está a ser sobrecarregada com chamadas das corporações para os Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS). A justificação para tal é a poupança de dinheiro.
Nas centrais telefónicas distritais caem diariamente, em média, mais de 500 chamadas sendo que, na grande maioria, não são alertas de fogo. "Isto sem falar dos muitos casos em que um bombeiro chefe de viatura, que está no terreno a acudir uma situação de emergência, liga para o 117 para obter mais dados operacionais", denuncia ao DN um operador do CDOS.
"Está? É para dar um número de saída. A viatura X saiu à hora Y." O diálogo entre o telefonista da corporação e o operador do centro distrital é célere. Mas podia ser feito via rádio. "Assim é mais cómodo", denuncia outro operador. Há até casos em que é a PSP que recebe o alerta via 112 e o reencaminha através do 117.
O Ministério da Administração Interna (MAI) reconhece que esta situação abusiva possa estar a acontecer em algumas corporações. Mas lembra que todos os quartéis de bombeiros estão "munidos de equipamentos de rádio que lhes permitem comunicar internamente sem recorrer ao telefone e sem custos". O MAI considera apenas plausível que tal aconteça "em comunicações circunstanciais, quando há interferências nas redes de rádio".
Como funcionam os alertas
Sempre que surge uma emergência num corpo de bombeiros são accionados os meios de socorro. O procedimento seguinte é dar conta da ocorrência ao CDOS, especificando o tipo de serviço e os meios destacados. Depois, consoante a dimensão da ocorrência, é enviada, regularmente, mais informação para o CDOS. Este, de duas em duas horas, remete o ponto de situação para o comando nacional. Quando decorre o incêndio, os bombeiros também comunicam via rádio ou, em caso de congestionamento das redes, via telemóvel.
Segundo confessou ao DN uma fonte dos bombeiros, a linha gratuita de alerta está a ser usada para poupar dinheiro. "Usamos essa linha do 117 por ser gratuito." Por isso, quando toca o telefone no CDOS, através do 117, o operador distrital nunca sabe se é mesmo para o relato de um incêndio ou para descarregar no sistema informático a saída de uma viatura accionada para acudir a uma doença súbita ou a um acidente. A excepção, soube o DN, ocorre no distrito do Porto, onde as corporações de bombeiros comunicam com o CDOS via rádio.
O maior transtorno acontece quando várias corporações tentam enviar os seus dados - tanto da saída de viaturas como de chegada ao quartel - e o operador está a atender o 117.
As chamadas do 117 são encaminhadas pela PT directamente para os centros distritais, não passando por nenhuma estrutura nacional. E o Estado continua a pagar o serviço, mesmo quando ele é utilizado abusivamente.
Articulação nacional
A Autoridade Nacional de Protecção Civil também admite que haja corporações a recorrer ao 117. Mas lembra que " o 117 não é um número de emergência", porque, teoricamente, o único número de emergência é o 112.
Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, desconhece este tipo de procedimentos. "Os corpos de bombeiros podem comunicar por rádio e por telefone. Não tenho qualquer conhecimento de que esteja a acontecer mas não excluo que possa ocorrer. A linha 117 não é para isso", frisa. Mas para a Liga, se tal está a ser a ocorrer é porque os comandos distritais também o estão a permitir. Na sua opinião, cabe à Autoridade Nacional corrigir a situação e repor a normalidade.
A comunicação tem sido um problema recorrente nos fogos. Por isso, este ano há mais canais de banda larga para a cadeia de comando e foram reforçados os equipamentos. Por cumprir, falta a promessa de um Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança que permita articular todas as forças de emergência e segurança.