Bombeiros de São Pedro de Sintra ficam sem comandante e direção

O novo comandante e a direção dos bombeiros de São Pedro de Sintra demitiram-se na quinta-feira, perante o boicote de funcionários e voluntários para não colocarem em causa o socorro à população, informou hoje fonte da associação.
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"O novo comandante sentiu que não conseguia responder às coisas como estavam, porque eles estavam a fazer boicote, digamos assim, a pessoal voluntário para a noite", explicou à Lusa Joaquim Duarte.

Segundo o presidente da direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de São Pedro de Sintra, a demissão ocorreu na sequência de "indicações, segundo disse o comandante, de que alguns foram aconselhados a não fazerem serviço, para não haver problemas ao entrarem no quartel".

"Ele disse que estava em causa o socorro às populações e, não havendo ninguém à noite, torna-se muito difícil, por isso disse que queria ser parte da solução e não ser parte do problema", adiantou Joaquim Duarte.

O comandante Rogério Pereira, antigo adjunto na corporação e formador na Escola Nacional de Bombeiros, tinha tomado posse na quarta-feira, apesar de contestado por 42 bombeiros voluntários e profissionais, que solicitaram inatividade ou dispensa de escala até 90 dias.

Os pedidos foram entregues ao comandante em regime de substituição, desde que Pedro Ernesto Nunes, que acumulou durante algum tempo o comando da corporação com a coordenação operacional do Serviço Municipal de Proteção Civil, pediu a demissão por motivos pessoais.

A corporação possui um efetivo de 74 elementos, mas 12 já antes tinham pedido inatividade e as atuais dispensas ocorreram no período que antecedeu o estado de alerta para a tempestade 'Ana', no fim de semana passado.

"A bem do socorro à população, entendemos que não estávamos a fazer nada, antes pelo contrário, porque como ele [o comandante] saiu, nós só queríamos trabalhar com alguém com pés e cabeça", afirmou Joaquim Duarte.

A direção da associação demitiu-se após "analisar os prós e os contras" de se manter em funções e depois de uma reunião, no quartel, em São Pedro de Penaferrim, com o vereador da Proteção Civil, Domingos Quintas (PS), que apenas "quis saber o que se estava a passar".

"Quando entregámos a comunicação [da demissão], à noite já havia pessoal", notou Joaquim Duarte, acrescentando que, atualmente, "está tudo assegurado, está tudo a funcionar".

O dirigente demissionário admitiu que "não podia pôr em causa o socorro à população", apesar de contar com a disponibilidade dos comandantes das vizinhas corporações de Alcabideche (Cascais), Sintra e Algueirão-Mem Martins para acorrerem a situações de emergência na área de São Pedro.

"A legislação a nível de bombeiro voluntário é de rir", comentou Joaquim Duarte, considerando que o caminho deve passar pela profissionalização dos bombeiros, para que se deixe de "andar a brincar às capelinhas".

O comando da corporação será exercido por Rui Fontainhas, em regime de substituição, por ser o mais graduado, até que seja eleita uma nova direção.

"O pessoal entregou-me os pedidos de dispensa, mas eu não os despachei", afirmou, por seu lado, Rui Fontainhas, esclarecendo que os bombeiros cumpriram "serviços mínimos" nos períodos de piquete.

Os pedidos de dispensa e de inatividade visaram apenas levar a direção da associação a "reverter a situação" de nomeação do comandante, admitiu.

O comandante em regime de substituição assegurou que "o socorro nunca esteve em causa" e que o serviço "esteve sempre assegurado", incluindo durante o período de mau tempo, com pessoal em situação de alerta para avançar em caso de necessidade, o que acabou por não se verificar.

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