O incêndio que deflagrou ontem na freguesia do Tramagal, em Abrantes, começou em "olival e restolho" e propagou-se devido às rajadas de vento forte, o que, com uma temperatura acima dos 40 graus, gerou um contexto "explosivo", como descreveu ao DN a presidente da câmara local, Maria do Céu Albuquerque..Um cenário de operações difícil para os bombeiros que, surgindo duas semanas depois dos fogos que atingiram Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera - provocando 64 mortes e mais de 200 feridos -, fez soar o alarme nas autoridades que colocaram no terreno três meios aéreos, 186 operacionais e 56 veículos..Neste fogo, que começou por volta do meio-dia, ficaram feridos nove bombeiros, três com gravidade. Estes pertencem a uma equipa privada de bombeiros, ao serviço do grupo de empresas de celulose Afocelca, e foram apanhados pelas chamas. "Tínhamos seis homens no local, com idades entre os 30 e os 40 anos. Quatro ficaram feridos no incêndio - dois têm queimaduras nos braços e nas pernas e um, mais grave, apresenta queimaduras dorsais", explicou ao DN o diretor de comunicação do grupo Afocelca, Rui Batista..Dois dos feridos graves foram transportados de helicóptero para os cuidados intensivos da unidade de queimados do Hospital de São José, em Lisboa, onde ficaram internados com prognóstico reservado. O outro foi transportado para a Prelada (no Porto). Houve ainda mais cinco bombeiros voluntários com ferimentos sem gravidade no fogo: quatro por inalação de fumos e um com uma fratura..Segundo Rui Batista, os homens apanhados pelas chamas são "profissionais no combate e frequentam várias formações na área, por ano". O grupo Afocelca, que congrega as empresas florestais The Navigator Company e Altri, ligadas ao negócio da pasta de papel, "gasta quatro milhões de euros anuais em prevenção, com este corpo de bombeiros que conta com largas dezenas de efetivos". A verba é gasta em meios como helicópteros, carros de combate e nos salários dos operacionais. Estes bombeiros privados estão integrados, desde 2005, no dispositivo nacional de defesa da floresta contra incêndios florestais (DFCI), da Autoridade Nacional de Proteção Civil. "Foi a Proteção Civil que os chamou para este fogo de Abrantes", adiantou Rui Batista, numa lógica de proximidade do local e de reforço das corporações que também foram mobilizadas para a zona..O incêndio de Abrantes estava em resolução às 15.00 e em conclusão às 16.00, segundo a autarca Maria do Céu Albuquerque. "Os meios vieram em tempo muito oportuno e as equipas de socorro também surgiram rapidamente", explicou. "Num concelho com 714 km2, 60% é mancha florestal e 98% é privada. E não está devidamente acautelada para a prevenção de incêndios.".A presidente da Câmara de Abrantes adiantou ainda que "as juntas de freguesia e as associações de caçadores têm kits de combate a incêndios. Fazemos briefings de 15 em 15 dias com as pessoas que têm responsabilidade na área", assegurou..Três feridos em Tomar.Pelas 12.00, quando deflagrou o incêndio de Abrantes, começou também o da Portela, no concelho de Tomar, que provocou ferimentos em dois bombeiros e um civil, um homem que tentou salvar o trator de um barracão onde guardava as alfaias agrícolas e que ardeu, como contou o secretário da Junta de Freguesia de São Pedro de Tomar, António Vicente. A freguesia "é uma das maiores e está situada numa zona de eucaliptos, perto da aldeia de Portela, cujas habitações estiveram em perigo". O fogo "iniciou em dois pontos distintos e deflagrou rapidamente com a força dos ventos", contou..Os dois grandes fogos no distrito de Santarém foram os que mobilizaram mais homens e meios, ontem, em todo o país: 727 operacionais e 221 veículos foram para os locais, com o apoio de quatro meios aéreos (três em Abrantes). As temperaturas vão começar a baixar a partir de hoje em todo o país.