Bombas de gasolina em risco de fechar
Os portugueses estão a invadir as bombas de gasolina de Espanha para atestar os seus veículos. É uma verdadeira romaria em busca de preços mais baixos: aos fins-de-semana, dezenas de carros com matrícula nacional provocam filas infindáveis nos postos de abastecimento do país vizinho. Poupa-se pelo menos dez euros por depósito (ver tabela), e esta diferença de preços está a criar um nó na garganta dos empresários e funcionários do sector dos combustíveis em Portugal.
As bombas de gasolina da raia estão a viver momentos difíceis, com possíveis encerramentos no horizonte. Nos postos de abastecimento fronteiriços do distrito de Portalegre o cenário é negro. Em Santo António das Areias, no concelho de Marvão, o negócio dos combustíveis no espaço comercial de João Nunes Sequeira vai de mal a pior.
" O negócio está parado, não corre nada bem", diz ao DN o empresário. Com a voz embargada, garante que o encerramento do estabelecimento está por um fio. A bomba de gasolina sofreu uma enorme quebra nas vendas nos últimos tempos e nela trabalham dois funcionários que, diariamente, pouco mais fazem do que abastecer os carros dos Bombeiros Voluntários de Marvão.
O mesmo se sucede a poucos quilómetros da fronteira, no pequeno posto de combustíveis da Cooperativa Agrícola de Porto da Espada. E basta seguir para sul as estradas da fronteira para os casos se multiplicarem. Em Campo Maior, o proprietário da única bomba de gasolina, José Gaspar, adianta que teve uma descida a pique no negócio, acima dos 70%. " Só este ano já tive uma quebra superior a 200 mil litros". Este espaço, que está a 12 quilómetros da fronteira do Retiro e dá emprego a cinco pessoas, pode ter os seus dias contados: "Se isto continuar assim, tenho que fechar as portas", diz Gaspar.
Badajoz à vista
Em Elvas a situação também é preocupante. Um dos funcionários de uma das gasolineiras, Bruno Judas, lamentou a forte quebra no negócio, sustentando que "se não fossem as grandes empresas de camionagem que possuem cartão cliente isto já estaria fechado há muito tempo". Por sua vez, João Reis - funcionário da empresa Nabeiro Auto, propriedade do empresário Rui Nabeiro - garante que "a gasolineira sofreu uma quebra no negócio na ordem dos 50%". O funcionário lamenta ainda que os habitantes da cidade só metam "cinco ou 10 euros de combustível". "É apenas o suficiente para se deslocarem a Badajoz para encher os depósitos", explica.
Filas para abastecer
E de repente, quando se salta para o outro lado da fronteira, tudo muda. Bastam meia-dúzia de metros para o preço da gasolina cair 20%. E as bombas de combustível às moscas dão lugar a estações de serviço apinhadas de carros.
Nas instalações da gasolineira Top Oil, em Badajoz, é um rodopio de gente. "Isto é uma loucura, não temos mãos a medir. Mais de 60% dos nossos clientes são portugueses", explica Túlio Hernandez, funcionário da bomba de gasolina espanhola.
No outro lado da fronteira de Galegos (Marvão), também o posto de combustíveis de José Juan Caçares, na pequena vila espanhola de Valência de Alcântara, está a funcionar a todo o gás. O empresário e os seus funcionários não têm mãos a medir com a quantidade de clientes portugueses que vão abastecer os seus veículos diariamente ao seu estabelecimento. "O negócio está a 100% graças aos portugueses que nos visitam." diz José Juan Caçares. Então "ao fim-de-semana é de mais. Não temos mãos a medir".
A avalanche de portugueses é confirmada por Ramón Barquero, proprietário de um posto de combustíveis na Avenida de Portugal, em Badajoz. "A grande maioria dos meus clientes são portugueses. Tenho pena de não ter mais postos de abastecimento nesta zona, pois se os tivesses tenho a certeza que venderia muito mais."
Aproveitando a escalada do petróleo e a disparidade dos preços praticados nos dois países, o mercado de combustíveis da raia espanhola começa a adaptar-se à clientela portuguesa. Ao fim-de-semana, uma gasolineira situada na zona industrial de Badajoz promove campanhas com preços ainda mais baixos. Segundo foi possível apurar, os principais clientes desse espaço são mais uma vez os portugueses, que provocam nesses dias filas intermináveis. Longe vão os tempos em que as famílias viajavam até Espanha apenas para comprar caramelos.