Que levante a mão quem nunca usou uma caneta Bic. Ou um isqueiro. Ou uma lâmina de barbear. Fique a saber que a marca francesa de produtos de utilizar e deitar fora teve lucros recorde em 2012, a ponto de o Le Monde titular que é tão rentável como a Vuitton. Com a diferença de que ao contrário das malas e outros bens de luxo, a Bic disputa esse mercado das coisas baratas onde a França, e a Europa em geral, é vista como tendo já perdido a guerra para a China..Desde a fundação em outubro de 1945, a marca vendeu mais de cem mil milhões de esferográficas, as célebres Bic Cristal, que têm até direito a ser expostas como peças de design no nova-iorquino MoMA. Mas são os isqueiros, começados a fabricar em 1972, que mais contribuem hoje para o sucesso da empresa, cujos lucros no ano passado cresceram 11%.."A maioria dos isqueiros chineses permite 800 chamas, com um Bic consegue mais de 3000", canta de galo Bruno Bich, de 66 anos e filho desse Marcel que criou a empresa em França logo a seguir à Segunda Guerra Mundial, desistindo, diz o mito, do "h" final do seu apelido porque aos soldados ingleses e americanos poderia soar a "bitch"..Ora, com tal atenção aos pormenores, é desde sempre com a estratégia do low-cost mas bom que a Bic se impõe. E se há outros casos de sucesso graças à crise, como os restaurantes McDonald's, no caso da marca dos Bich não é algo pontual pois existe uma obsessão com a qualidade de tipo europeu que vem de trás e que nos dá algumas lições nesta era de globalização e busca desesperada de mão de obra barata: 21 das suas 23 principais fábricas ficam em países desenvolvidos, nota o Le Monde..Aliás, mesmo que fundada por um italiano que comprou a patente da esferográfica a um húngaro, a Bic faz de tal forma questão de se proclamar francesa que se orgulha de continuar a fabricar isqueiros em Redon, canetas em Montevrain e lâminas em Longueil-Saint-Marie, terrinhas do mais gaulês que se possa imaginar. Ou seja, o seu sucesso global traz impostos ao Estado francês e cria emprego para os franceses, trabalhadores não descartáveis..Também só surpreenderá os mais desatentos que em tempos de crise a Bic se saia bem. O controlo de custos é regra sagrada, evitando-se despesas inúteis ou publicidade milionária. .Parece que para os Bich (a família ainda controla 43% do capital e 57% dos direitos de voto) todos os tostões contam e essa é a alma do negócio. Percebe-se porque, apesar do fim das taxas europeias sobre os isqueiros made in China, se sentem tão à vontade nesta era de austeridade. A sua fórmula do bom, barato e europeu não é de deitar fora.