Bolsonaro tem um problema chamado Onyx

Ministro da Casa Civil é investigado pelo Supremo. O vice-presidente fala abertamento em demissão. Sergio Moro confia. O presidente eleito fica a meio caminho.
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Onyx Lorenzoni não é só um nome complicado. O braço-direito de Jair Bolsonaro para a área política e um dos principais responsáveis pela formação do novo governo do Brasil pode complicar a vida do presidente da República eleito. Em causa, a abertura de um processo contra si no Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira, por ter recebido doações ilegais de campanha. E também as reações ao sucedido, em cascata, quer do próprio Bolsonaro, quer do seu vice-presidente Hamilton Mourão, quer do seu ministro da justiça Sergio Moro, o principal fiador do governo na luta contra a corrupção.

Dois dias depois do "Caso Onyx" ter chegado ao STF, Bolsonaro reagiu, admitindo assinar cartas de demissão de ministros, em caso de extrema necessidade: "Havendo qualquer comprovação ou uma denúncia robusta contra quem quer que seja do meu governo e que esteja ao alcance da minha caneta bic, ela será usada". Os jornalistas que registaram a resposta, notaram também que o presidente eleito parou e pensou antes de falar e logo após se pronunciar sobre o assunto decidiu encerrar a conferência de imprensa, realizada em Brasília.

A reação de Bolsonaro contrastou com a do seu vice, Hamilton Mourão, em Belo Horizonte, horas antes. Mais enfático, o general afirmou que "é óbvio que o ministro Onyx terá que se retirar do governo" caso seja "comprovada existência de ilicitude". Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a diferença entre a reação, mais suave, de Bolsonaro, e a resposta, mais perentória, de Mourão, deve-se a um conflito de bastidores. Onyx, deputado e amigo do presidente, a quem trata pela carinhosa alcunha de "cavalão", representa a área política do governo, enquanto Mourão simboliza a militar.

Os militares, embora tenham sido já contemplados com sete cargos relevantes no governo, não acreditam que Onyx consiga acumular a função de intermediar a relação do presidente com o Congresso e ainda conduzir a maioria dos convites para o novo governo. Propuseram, aliás, que Mourão chefiasse um grupo de acompanhamento durante a transição, uma ideia, entretanto, declarada vencida.

Além das reações de Bolsonaro e do seu vice-presidente ao caso de Onyx, era importante ainda ouvir a de Sergio Moro, que na qualidade de juiz coordenador da Operação Lava-Jato se revelou implacável na luta contra políticos corruptos. "Ele tem a minha confiança pessoal", disse o futuro ministro da justiça. "Assisti de perto ao grande esforço dele para aprovar no Congresso as 10 medidas do ministério público contra a corrupção, quando ele foi abandonado por muitos dos seus pares", continuou. A declaração de Moro rendeu-lhe críticas, assim como já rendera uma anterior sobre o tema, quando amenizou o suposto ilícito sob o argumento de que "Onyx se arrependeu".

Onyx será investigado pelo STF após pedido da procuradoria-geral da República acolhido pelo juiz Edson Fachin. Nos acordos de delação premiada da empresa produtora de carne JBS são referidas duas transferências não declaradas, e portanto ilegais, de 100 mil reais cada [cerca de 23 mil euros] para o então deputado. Ele já admitiu e se desculpou por uma delas mas nega a outra, revelada publicamente já após a eleição de Bolsonaro. "Alto lá, sou um combatente contra a corrupção por toda a minha vida, nada temo, não é a primeira vez que o sistema tenta envolver-me com corrupção", disse há uma semana. Na sequência da abertura do processo no STF, congratulou-se, por nota, por poder "dar todos os esclarecimentos".

É Onyx, ao lado de Bolsonaro, que vai conduzindo a escolha de ministros do novo governo. Neste momento, 20 estão já assegurados, faltando dois, o dos Direitos Humanos e o do Meio Ambiente, para concluir o executivo. Em campanha, o presidente prometera um governo de "mais ou menos 15 ministros".

em São Paulo

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