"Foi mais rápido do que um número de stand-up comedy", resumiu um analista brasileiro logo após o discurso surpreendentemente curto - menos de oito minutos mais três respostas a perguntas do organizador Klaus Schwab - de Jair Bolsonaro na abertura do Fórum Económico Mundial de Davos. "Ele deixou um cartão-de-visita ao mundo económico mas com o número de telefone do Paulo Guedes no verso", continuou um enviado à Suíça, a propósito da superficialidade da apresentação do presidente brasileiro, que, mais de uma vez, remeteu detalhes sobre a política económica do governo para o seu "superministro" da área..No entanto, a frase "vamos fazer do Brasil um dos 50 melhores destinos do mundo para negócios" foi destacada pela maioria dos órgãos de comunicação social do Brasil como boa síntese da estreia internacional do chefe de Estado recém-empossado.."Ele falou de reforma burocrática, de reforma tributária e de privatizações mas não entrou nos detalhes, não falou, por exemplo, uma palavra no seu discurso da reforma da previdência, a grande prioridade do governo na política económica para este ano, que terá deixado para as comunicações paralelas do fórum, nomeadamente a do Paulo Guedes", notou João Borges, especialista de economia da Globo Newsenviado a Davos..No entanto, sublinhou o jornalista Rafael Coimbra, "deixou clara a decisão de abrir o país ao mundo dos negócios, tornando-o um destino atrativo para os investidores presentes na sala". O economista Daniel Sousa acrescenta que, "apesar dos discursos antiglobalistas do seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o presidente foi leve na abordagem do globalismo perante, afinal, os grandes players do globalismo mundial".."O Brasil, segundo Bolsonaro, quer abrir a economia ao mundo e expor as empresas nacionais ao comércio global. No entanto, ele afirmou que se não é favorável à política dos campeões nacionais [política dos governos do PT que privilegiava uma empresa por setor], também não quer gerar a política dos derrotados nacionais, ou seja, quer primeiro dotar as empresas de competitividade", juntou Sousa..Sobre corrupção, os analistas notaram que Bolsonaro também não se deteve, aconselhando a plateia a ouvir as comunicações sobre o assunto do seu "superministro" da Justiça, Sérgio Moro, outro membro do governo que viajou para a Suíça. "Muitas vezes Bolsonaro é chamado de vago, que apresenta ideias e frases, mas sem dizer como as vai levar à prática", afirmou o comentador Artur Xéxeo, reproduzindo a crítica efetuada já durante a tomada de posse, quando o novo presidente falou ao Congresso por dez minutos, um recorde de rapidez. E sobre a relação do Brasil com o subcontinente americano deixou no ar apenas uma frase forte: "Não queremos mais uma América do Sul bolivariana.".Outro ponto muito debatido após a comunicação de Bolsonaro foi o da relação entre meio ambiente e agronegócio. "O presidente não falou sobre os acordos climáticos de Paris, de que era suposto falar depois de ter ameaçado romper esses acordos, mas falou de ambiente até por causa do ruído que o Brasil tem gerado no mundo nesse assunto", registou Borges. Outro comentador enviado a Davos, Rodrigo Alvarez, sentiu de empresários estrangeiros "uma desilusão por Bolsonaro dissociar dois lados, ambiente e economia, indissociáveis". .A frase do presidente brasileiro sobre o tema, já quando respondia a questões de Klaus Schwab, porém, é que "o meio ambiente deve estar casado com o desenvolvimento e o agronegócio", antes de detalhar a dimensão das áreas florestais e das áreas de cultivo no país. A sua ministra da agricultura, Tereza Cristina, gostou do que ouviu, segundo Valdo Cruz, jornalista da Globo que trocou impressões com ela logo após o discurso. Segundo a ex-líder da chamada "bancada do boi", o grupo de parlamentares que no Congresso defende a agenda de agricultores e pecuaristas, a exposição de Bolsonaro deu o mote para que ela faça viagens oficiais à Ásia e à Europa. "Na Ásia tentarei conquistar novos mercados, na Europa negociarei restrições e resolverei contenciosos."