Boletins de voto deixam eleitores italianos à deriva
Aparticipação nas legislativas foi elevada desde as primeiras horas de ontem, mas muitos eleitores saíam das assembleias de voto com ar zangado devido à "bagunça" dos boletins, em que abundavam os símbolos dos partidos mas faltavam os nomes dos candidatos. Muitos temiam ter votado em quem não queriam, por engano.
Desde o início da campanha para as eleições, que terminam hoje, os 47 milhões de eleitores (dos quais 52,1% votaram ontem) habituaram-se a ver Silvio Berlusconi e Romano Prodi respectivamente como líderes da Casa das Liberdades (coligação de centro-direita) e da União (centro-esquerda). Mas nos boletins de voto - cor- -de-rosa para a Câmara dos Deputados e amarelo para o Senado - procuram em vão uma referência.
No entanto, em Roma, nos boletins para a Câmara, apenas os Verdes e os Comunistas Italianos (CI) tinham a palavra União junto ao seu símbolo. No caso da Oliveira, que concorre coligada com a Margarida e os Democratas de Esquerda (DS, ex-comunistas), surge sem símbolo da União e sem indicação dos partidos que a integram. Nos boletins para o Senado, a Oliveira não aparece porque não se apresenta a este escrutínio, ao contrário da Margarida e dos DS, que concorrem individualmente.
A dificuldade na identificação dos candidatos e partidos parece ser o maior problema do novo sistema eleitoral. O boletim reflecte uma realidade bem diferente da que foi apresentada na campanha. Muitos boletins foram anulados.
"Quando entrei na cabina estava convencida que iria encontrar a cara de Prodi. Nada disso. Só vi Antonio di Pietro (juiz e fundador de um partido unipessoal) e Clemente Mastella (líder da Udeur). E também Berlusconi e os seus aliados Gianfranco Fini (líder da Aliança Nacional) e Pierferdinando Casini (líder da União dos Democratas-Cristãos). Os outros nada", disse Elena Barkani, professora primária, à saída das urnas.
"Com o velho sistema, os candidatos eram facilmente identificáveis, com os símbolos das duas coligações. Agora os eleitores encontram-se diante de um número incrível de símbolos e partidos", declarou Gianni Larussa, um carpinteiro que admitiu ter-se sentido "muito confuso".
"Tudo resulta do sistema eleitoral contraditório. O desejo de conquistar a maioria leva os partidos a coligações antes das eleições. Mas estas serão as eleições mais bipolares de sempre", comenta Luiggi Piersanti. E acrescenta que "o boletim é o espelho do país: hesitante entre o passado que não morre e o presente incerto".