Boko Haram libertou (quase) todas as estudantes
Os números não batem certo nem a história está à prova de incoerência. O grupo terrorista Boko Haram libertou ontem dezenas de estudantes com idades entre os 11 e os 19 anos da escola de Dapchi, no estado nigeriano de Yobe, que havia raptado há um mês. O governo garante não ter pago qualquer resgate.
"Não sei a razão pela qual nos trouxeram de volta, mas o que nos disseram é que somos filhos de muçulmanos", disse Khadija Grema à Reuters. Os autores do crime também não deram qualquer justificação pelos atos, embora se especule que o motivo fosse o resgate. Aos gritos de Allahu akbar! (Deus é o maior!), os islamistas entraram naquela cidade do Nordeste da Nigéria numa frota de camiões. Pararam os veículos, deixaram as crianças e adolescentes e voltaram para trás.
Aliyu Maina, cuja filha de 13 anos foi libertada, contou à agência que os militantes do grupo extremista "pararam, bloquearam a estrada, não falaram nem cumprimentaram ninguém". A única comunicação que fizeram foi para que os transeuntes "dessem espaço para as pessoas reconhecerem as suas crianças, e eu trouxe a minha filha".
No dia 19 de fevereiro, 110 raparigas foram raptadas de Dapchi - o maior caso desde o rapto de 270 raparigas em Chibok, em 2014.
Ao fim de várias horas, variavam os números relativos às estudantes libertadas. Segundo o ministro da Informação, Lai Mohammed, 101 raparigas e um rapaz foram libertados. À Reuters, os habitantes disseram que foram entregues mais de cem jovens.
"Uma ficou com eles porque é cristã", revelou uma das meninas, Grema. Um tio de outra jovem libertada, Hadiza, relatou que a jovem recusou converter-se ao islão.
Lai Mohammed explicou que foi difícil contabilizar as estudantes porque muitos pais levaram-nas de imediato para casa. O ministro disse ainda que duas jovens morreram durante o período em que estiveram aprisionadas. Outras fontes apontam para cinco mortes.
Por outro lado, um número indeterminado de raparigas foi levado para o hospital. "As meninas estão com um ar horrível. A maior parte está a soro porque estão exaustas e subnutridas", disse um elemento do hospital central de Dapchi ao The Nation.
Declarações que entram em contradição com o testemunho de Grema. "Não nos fizeram mal. Deram-nos comida, muito boa comida. Não tivemos problemas."
A libertação coincidiu com a visita de 30 familiares das meninas de Chibok que se mantêm desaparecidas. Yakubu Nkeki, dirigente da associação de familiares das crianças de Chibok, descreveu a cena da libertação à Reuters, tendo dito que as meninas pareciam "em pânico" e que mal conseguiam responder às perguntas.
"Disseram-nos que três meninas caíram [do camião] para o rio a caminho de Sambisa [a floresta onde está aquartelado o Boko Haram]. As outras duas morreram na floresta", contou Yana Galang, mãe de uma desaparecida de Chibok.
Desde 2009 o grupo islamista matou pelo menos 20 mil pessoas e levou mais de dois milhões a fugir no Nordeste nigeriano. O presidente Buhari, eleito em 2015, que prometeu acabar com o Boko Haram, declarou o rapto de fevereiro um "desastre nacional".