Bob Woodward traça retrato demolidor de um Trump colérico e paranoico

O muito aguardado livro do jornalista de investigação norte-americano Bob Woodward sobre Donald Trump traça o retrato de um Presidente inculto, colérico e paranoico cujos secretários e conselheiros se esforçam permanentemente por controlar para evitar os piores desaires.
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O diário The Washington Post, que obteve um exemplar do livro redigido por aquele que expôs, juntamente com Carl Bernstein, o escândalo de Watergate - que obrigou o então chefe de Estado, o republicano Richard Nixon, a demitir-se -, publica vários excertos pouco abonatórios para o 45.º Presidente dos Estados Unidos.

Intitulado "Fear: Trump in the White House (Medo: Trump na Casa Branca)", o livro inclui episódios incríveis dos primeiros 18 meses de Trump no cargo, entre os quais que o seu chefe de gabinete, John Kelly, lhe chamou em privado "idiota" e que elementos da sua equipa lhe retiraram documentos sensíveis da secretária para impedir que ele os assinasse, incluindo tentativas do Presidente para retirar os Estados Unidos do Tratado de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA), e pensam que ele muitas vezes não sabe o básico sobre política externa.

Bob Woodward descreve no livro a frustração permanente de John Kelly, que é tradicionalmente o homem mais próximo do Presidente dentro da "West Wing (ala presidencial).

Numa reunião à porta-fechada, Kelly terá afirmado, sobre Donald Trump: "É um idiota. É inútil tentar convencê-lo do que quer que seja. Nem sei mesmo o que estamos aqui a fazer. É o pior trabalho que alguma vez tive (...) Estamos em Crazytown (Cidade dos Malucos)".

O livro revela que também o ex-advogado de Trump na investigação sobre a eventual ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016, John Dowd, duvidou da capacidade de Trump para não cometer perjúrio caso fosse entrevistado pelo procurador especial Robert Mueller.

"Não testemunhe. É isso ou um fato-macaco cor de laranja", terá dito Dowd ao Presidente.

Já o secretário da Defesa, Jim Mattis, é citado explicando a Trump porque é que os Estados Unidos mantêm tropas na Coreia do Sul para monitorizar as atividades norte-coreanas de lançamento de mísseis balísticos: "Fazemos isso para impedir a Terceira Guerra Mundial".

No final dessa reunião com a equipa de Segurança Nacional sobre a presença militar na Península Coreana, Mattis, particularmente exasperado, comentou com pessoas do seu círculo restrito que o Presidente se comportava como quem tem a idade mental de "um miúdo do quinto ou do sexto ano (10 ou 11 anos)".

Ainda segundo os elementos reunidos por Bob Woodward, após o ataque químico de abril de 2017 atribuído ao regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, Trump telefonou ao general Mattis e disse-lhe que queria assassinar Assad.

"Vamos matá-los a todos! Vamos a isso! Entramos lá e acabamos com eles", terá declarado.

Depois de ter desligado, Mattis virou-se para um conselheiro e disse: "Não vamos fazer nada do género. Vamos ser muito mais comedidos".

A publicação do livro de Woodward é aguardada com antecipação há semanas, e atuais e antigos funcionários da Casa Branca pensam que quase todos os seus colegas cooperaram com o prestigiado jornalista celebrizado por ter levado à demissão de Nixon.

Mas Trump não falou com Woodward até o manuscrito do livro estar concluído.

O Washington Post divulgou uma gravação áudio de Trump expressando surpresa relativamente ao livro, numa conversa tida em agosto com Woodward, em que o autor lhe diz ter contactado diversos responsáveis para tentar entrevistá-lo e lhe disseram sempre que não.

Esta obra segue-se à publicação em janeiro, de "Fire and Fury (Fogo e Fúria)", da autoria de Michael Wolff, que desencadeou um conflito entre Trump e Steve Bannon, o seu ex-estratega principal, que falou com Wolff sobre Trump e a família em termos altamente críticos.

O livro de Wolff chamou as atenções, com os seus episódios desconcertantes, mas padecia de muitas imprecisões factuais.

A obra de Woodward surge também algumas semanas depois de Omarosa Manigault Newman, antiga assessora da Casa Branca e concorrente de "O Aprendiz", programa protagonizado por Trump, ter editado um livro sobre o tempo que passou na West Wing, que inclui gravações áudio dela a ser despedida por John Kelly e de uma conversa posterior com o Presidente em que este afirma que não estava a par da decisão de Kelly de a despedir.

Trump é cada vez mais crítico em relação a fontes anónimas utilizadas por jornalistas que escrevem sobre a sua Administração.

O relato de Woodward assenta em chamadas conversas "de fundo" com fontes, nas quais as suas identidades não são reveladas.

No final de agosto, Donald Trump atacou com violência, na rede social Twitter, Carl Bernstein que, como Bob Woodward se tornou uma figura destacada do jornalismo de investigação por causa do caso Watergate.

"Estamos a rir-nos, em todo o país, do desprezível Carl Bernstein, um homem que vive no passado e pensa como um velho degenerado, inventando história atrás de história! Fake News! (Notícias Falsas!)", escreveu Trump.

A Casa Branca não respondeu até agora a um pedido de comentário pelas agências de notícias Associated Press e France-Presse aos excertos do livro de Bob Woodward, que será publicado a 11 de setembro.

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