Boa adaptação, título ridículo
Já vimos nos cinemas alguns filmes com títulos portugueses entre o desconcertante e o atroz (lembram-se do recente Um Azar do Caraças, para o original Knocked Up, de Judd Apatow? ou, mais remoto, de Os Quatro Cabeleiras do Após-Calipso, para A Hard Day"s Night, de Richard Lester, com os Beatles?), embora não tenhamos chegado ao ponto do Brasil, onde O Padrinho foi O Poderoso Chefão. Esta semana, os títulos absurdos voltaram a atacar, com a estreia de Palácio das Necessidades (no original francês, Quai d"Orsay). O espectador incauto, que na sua maioria não sabe tratar-se de um filme baseado numa BD passado no Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, olha para este título, julga estar ante um documentário sobre o nosso MNE e o vácuo Rui Machete, e retira em boa ordem. O mais óbvio e natural, em vez de o ter "nacionalizado", seria, por exemplo, ter intitulado o filme de Bertrand Tavernier Negócios Estrangeiros, ou então recorrido ao título para o mercado de língua inglesa, The French Minister (O Ministro Francês). A opção por Palácio das Necessidades, além de ridícula, prejudica ainda mais a promoção de um filme já de si apontado a um universo muito limitado de espectadores entre nós. Resta dizer que este é um caso raro de uma boa e inteligente versão para cinema de uma BD. Tavernier percebeu que não podia fazer um decalque passivo nem grandes invenções e reproduziu o espírito, o humor, o ambiente e o ritmo da história, com alterações de somenos e atores que fogem à caricatura de personagens já de origem tocadas pelo caricatural.