Blindagem de carros aumenta em São Paulo

Mesmo com a crise, a venda de carros blindados continua a crescer no Brasil, segundo reportagem publicada esta semana no New York Times. São Paulo é a cidade que mais produz e comercializa carros blindados para uso civil no mundo.
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A classe média e média alta da cidade é o novo filão de clientes para este mercado, já que o preço da blindagem caiu pela metade ao longo da última década. Segundo informações da Associação Brasileira de Blindagem, em 2008, mais de 7 mil carros foram blindados no Brasil, em comparação com 1782 há dez anos. Mesmo com a queda da violência urbana da capital, o elevado número de horas que o paulistano passa no trânsito, é definitivo para a drástica decisão da blindagem. O nível de contenção balística da blindagem determina o grau de protecção que o veículo facultará ao condutor, bem como o peso desta transformação no seu bolso. Os vidros são responsáveis por cerca de 70% do custo de uma blindagem, sendo grande parte da tecnologia empregue nos materiais utilizados provenientes da indústria aeronáutica. A relativa estabilidade económica e a facilidade para se obter financiamento tornaram a tecnologia da blindagem mais acessível, segundo o NYT.

Actualmente a blindagem é percebida como um acessório. Com a sua popularização induzida pelos media, surgirá uma nova condição sociocultural responsável por converter o acessório, em primordial. Tal caso pode ser observado nas ruas das capitais brasileiras. Até meados do ano 2000 eram poucos os carros que tinham colado nos vidros as películas para os tornarem escuros, impossibilitando às pessoas de fora a visualização do interior. Tal medida foi adoptada como prevenção a assaltos no trânsito, já que o assaltante estaria impossibilitado de identificar objectos dentro do carro, ou mesmo passageiros que pudessem reagir. Do medo que justifica a condição do "condutor voyeur" emergiu a necessidade histérica de consumo, onde os carros que não tivessem os vidros escuros seriam alvos privilegiados dos assaltantes, destacando-se na imensa frota que obstrui as artérias da cidade. A indústria do automóvel respondeu de forma célere: hoje os carros saem da fábrica com os vidros escuros. Outro exemplo de adaptação foi a reposta que as seguradoras encontraram para os donos de carros blindados: actualmente possuem especialistas em blindagem para a realização das análises técnicas de seguros. É possível que a própria indústria automóvel no Brasil, num futuro não tão distante, reorganize os processos e crie linhas de carros populares blindados, ou então adaptados para receber a blindagem. A reprodução maciça da reportagem realizada pelo NYT nos jornais brasileiros contribuirá sem dúvida para que a ideia da "blindagem acessível" seja disseminada. Não por acaso o Brasil segue parâmetros de qualidade e técnicas de blindagem americanas.

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