Blair e Clegg. Olha quem o brexit trouxe de volta à ribalta política
Tony Blair foi líder dos trabalhistas e primeiro-ministro até 2007. Nick Clegg liderou os liberais democratas e foi o número dois do governo de David Cameron até 2015. O primeiro dedicou-se à consultadoria e a conferências depois de sair do governo. O segundo garantiu por uma curta margem o seu lugar de deputado nas eleições de há dois anos, mas demitiu-se da liderança do Lib Dem. Agora, com o brexit a tornar-se cada vez mais real, os dois suspenderam a sua reforma da política ativa com um mesmo objetivo: tentar impedir que o Reino Unido saia da União Europeia.
A certeza do regresso de Tony Blair, 63 anos, foi dada no primeiro dia deste mês, quando o antigo líder do governo anunciou que iria voltar à linha da frente da política britânica para combater os planos de Theresa May para o brexit, esperando "voltar a estar perto dos eleitores" na campanha para as legislativas de 8 de junho. "É preciso pôr as mãos na massa", disse em entrevista ao Daily Mirror, "e é o que eu vou fazer."
"Esta coisa do brexit deu-me uma motivação direta para estar mais envolvido na política", explicou Blair na mesma entrevista, adiantando que vai ser uma "parte ativa na tentativa de moldar o debate político". Nesta semana, o ex-primeiro-ministro terá uma boa oportunidade para tentar influenciar a negociação do brexit, pois estará em Dublin numa conferência com Michel Barnier, o chefe da equipa de negociações da Comissão Europeia.
Mas admite saber que irá receber "muitas críticas" sempre que regresse à "arena política". Um risco que está disposto a correr. "Não quero passar por este momento histórico e não dizer nada, porque isso significaria que eu não me importo com este país e eu importo-me", garantiu ao Mirror.
Encarando o brexit como uma inevitabilidade, pois já disse acreditar que Theresa May vai ganhar as eleições, Blair está convencido de que, no futuro, o Reino Unido vai querer regressar à União Europeia. "A minha previsão é que pode levar outra geração, mas em algum momento vamos querer voltar", declarou o trabalhista, sublinhando que "o mercado único colocava-nos na Liga dos Campeões dos acordos comerciais. Um acordo de comércio simples é estar na Premier League, que nós estamos a rejeitar".
Depois das lágrimas que verteu em 2015 ao anunciar a sua demissão da liderança do Lib Dem em 2015, uma despedida agravada pelo susto de quase não conseguir manter o seu lugar de deputado, Nick Clegg está de volta e em força. "Vou candidatar-me outra vez. Os meus constituintes e milhões de pessoas Reino Unido fora merecem melhor que o hard brexit de Theresa May e a liderança infeliz de Jeremy Corbyn", escreveu no Twitter a 19 de abril, pondo fim às especulações sobre o seu futuro político.
Este regresso, após meia década longe dos holofotes, começou a ser desenhado há uns meses, quando se juntou ao seu antigo rival, o ex-líder trabalhista Ed Miliband, e a um grupo de conservadores pró-Europa, para liderar o escrutínio ao plano de saída da UE do governo.
Como porta-voz do Lib Dem para o brexit, Clegg diz que a posição de Theresa May e do ministro para a saída do Reino Unido da UE, David Davis, é "baseada em múltiplas falácias". E continua a defender a realização de nova consulta popular, afirmando que os defensores do brexit estão a "evitar um segundo referendo porque temem perder".
A vitória do brexit trouxe também a perda de peso político do UKIP, o partido que durante duas décadas defendia a saída do Reino Unido da União Europeia. Nas legislativas de 2015 conseguiu 12,6% dos votos, agora, as sondagens apontam que não ultrapassará os 5% no dia 8 de junho.
Esta crise é personificada na figura mais proeminente do partido, Nigel Farage, que, depois de muito reconsiderar, anunciou no passado dia 20 que não iria candidatar-se a um lugar no Parlamento. Justificação: sente que poderá defender melhor o brexit como eurodeputado. "Quero pressionar ao máximo no Parlamento Europeu", disse.