BIOGRAFIA: Óbito/Dhlakama: Atividade política começou na Frelimo

Afonso Dhlakama, que hoje morreu em Moçambique, começou a sua atividade política na Frelimo em 1974, um ano antes da independência moçambicana, mas cedo mudou de rumo, para aderir e tornar-se um dos cofundadores da Renamo.
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Pouco depois do "25 de Abril" em Portugal, que abriu as portas à independência, a 25 de junho de 1975, Dhlakama tinha 21 anos e pouco se sabe das razões que o levaram a deixar o então praticamente único movimento de libertação moçambicano que lutou contra o poder colonial português entre 25 de setembro de 1964 e o dia do cessar-fogo, 08 de setembro de 1974.

De nome completo Afonso Macacho Marceta Dhlakama, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nasceu a 01 de janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava, em Sofala, filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde, viria a tornar-se líder dos então "rebeldes" em 1979, função que assumiu apenas um ano mais tarde. Deixa viúva e nove filhos.

Tudo se precipitou após a morte do então líder rebelde, André Matsangaíssa, abatido durante um combate contra as forças da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), a 17 de novembro de 1979, assumindo "de facto" a liderança da Renamo em 1980, aos 27 anos.

Sob a sua liderança, a Renamo combateu o regime da Frelimo durante 16 anos - o cessar-fogo foi assinado 04 de outubro de 1992, em Roma, mediado pela Comunidade de Santo Egídio -, estendendo a guerra civil a praticamente todo o país, conflito que viria a desestruturar económica e socialmente o então jovem país.

A Renamo nunca negou o apoio financeiro recebido de uma África do Sul então segregacionista ('apartheid'), mas a Frelimo, numa jogada de antecipação, acabou por negociar com Pretória, em 1984, um "pacto de não agressão", em que os sul-africanos deixavam de apoiar os rebeldes.

Como contrapartida, Maputo comprometeu-se a deixar de apoiar o Congresso Nacional Africano (ANC), que lutava então contra o sistema de segregação racial sul-africano.

Após avanços e recuos, na guerra e nos bastidores dela, no final da década de 1980, Dhlakama aceita liderar a delegação da Renamo às negociações de paz com o governo, na altura liderado por Joaquim Chissano, conversações que tinham também na agenda a desmilitarização do movimento rebelde, a integração dos seus efetivos nas Forças de Defesa e Segurança Nacionais, a introdução do multipartidarismo e a realização periódica de eleições.

A partir de 04 de outubro de 1992, foi o próprio Dhlakama que oficializou a Renamo como partido político, passando de guerrilheiro a líder político.

Nas primeiras eleições presidenciais pluralistas, em 1994, Dhlakama sairia derrotado por Chissano, ao obter 33% dos votos, contra pouco mais de 50% de Chissano.

Na votação presidencial seguinte, em 1999, o resultado foi o mesmo, mas Dhlakama aproximou-se bastante dos 50%, (47,71% contra 52,29 de Chissano), ganhando "legitimidade" para contestar os resultados das eleições, conflito político que degenerou em violência e que só terminou quase um ano mais tarde, em 2000, quando os dois dirigentes chegaram a um consenso para voltar às negociações.

O líder da Renamo nunca chegou a conhecer o sabor da vitória presidencial, pois sairia novamente derrotado duas vezes por Armando Guebuza (2004 e 2009), o que o levou a abandonar Maputo em 2010, fixando a residência em Nampula, onde encetou um diálogo político com o então Presidente, que acabaria por fracassar.

Enviadas tropas militares e paramilitares para próximo da sua residência em Nampula, e com alguns incidentes pelo meio, Dhlakama refugiou-se no antigo quartel-general da Renamo, no povoado de Sathundjira, localidade de Vunduzi, distrito da Gorongosa, na província de Sofala.

É a partir daí que, em 2013, dirige um novo confronto militar contra as forças governamentais, iniciado com um ataque ao posto policial de Muxungué. Em resposta, as forças regulares atacam o local onde vivia, mas Dhlakama escapa ileso.

O novo conflito só terminaria a 05 de setembro de 2014, com a assinatura de um também novo acordo de paz, que viabilizou a participação de Dhlakama nas presidenciais de 2014, em que sairia mais uma vez derrotado, desta vez para o atual chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi.

Mais uma vez também, Dhlakama recusou reconhecer o resultado das eleições e percorreu o país mobilizando os seus apoiantes e dirigentes a fazerem o mesmo e a ameaçar tomar o poder pela força, o que levou Nyusi a reunir-se com o líder da Renamo em duas ocasiões, ambas em fevereiro de 2015, mas sem resultados.

A 12 de setembro de 2015, o líder da Renamo sofreu o primeiro de três atentados, quando a caravana de automóveis em que seguia foi atacada na província de Manica, ao que tudo indica por homens das forças de defesa e segurança de Moçambique, provocando cinco feridos, mas Dhlakama sai ileso.

A 25 do mesmo mês acontece o segundo, num ataque na província de Manica. Sai novamente ileso e refugia-se nas matas.

Após negociações com o governo, aceita sair das matas a 08 de outubro e dirige-se para cidade da Beira. Na manhã seguinte, a polícia cerca a sua residência e desarma a segurança de Dhlakama, operação "enquadrada" no início do "desarmamento coercivo dos homens armados da Renamo".

Dias depois, Dhlakama consegue fugir da sua residência na Beira e refugia-se nas matas da serra da Gorongosa e retoma os ataques militares.

Para pôr termo ao conflito, Nyusi iniciou via telefone novas conversações com Dhlakama, o que permitiu o estabelecimento das tréguas e o fim das hostilidades militares.

Filipe Nyusi dirigiu-se por três vezes a Gorongosa para se reunir com Dhlakama e duas obtiveram sucesso.

Recentemente, os dois líderes acordaram um Pacote de Descentralização que foi entregue na Assembleia da República e aguarda a sua aprovação.

Atualmente, os dois líderes estavam a negociar a desmobilização e integração dos homens da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança.

Dhlakama aguardava o fim das negociações para sair das matas.

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