Bilionário favorito dos checos para fazer frente a Bruxelas
"Segue o homem que persegue a verdade; foge daquele que a encontrou." Atribui-se esta frase ao último presidente da Checoslováquia e primeiro da República Checa, Václav Havel. Qual a verdade para os checos, é a interrogação à qual respondem hoje e amanhã os eleitores deste país com uma população semelhante à portuguesa.
A República Checa aderiu à União Europeia (UE) em 2004, mas os cidadãos não se mostram convencidos dos benefícios da associação ao clube de Bruxelas. Um inquérito levado a cabo neste ano pelo centro de sondagens público (CVVM) dá a conhecer que só 18% dos checos concorda em pleno com a adesão à UE e 38% concorda com reservas. Quanto à adoção do euro para substituir a coroa, apenas 21% se mostra favorável. O que se compreende. O país goza de um bom ambiente económico: crescimento de 3%, dívida pública de 35% (menos de metade da média da UE), orçamento com superávit, taxa de emprego recorde e aumento de salários e pensões de 10 a 15%.
Ainda que não se deva só a ele, os louros vão para Andrej Babis, ministro das Finanças até maio. O empresário nascido na Eslováquia é o segundo homem mais rico da República Checa. É dono de empresas de comunicação social, mas é o gigante Agrofert, conglomerado agroalimentar e químico com mais de 250 empresas, que lhe dá rendimentos. Tem uma fortuna avaliada em 3,4 mil milhões de euros - segundo a Forbes, mais do que duplicada desde que entrou no governo, em 2013. Foi a suspeita de ter cometido fraude que envenenou a relação com o primeiro-ministro Bohuslav Sobotka. Este perdeu a confiança em Babis, que acabou por ser demitido.
O empresário é suspeito de ter escondido o facto de ser proprietário de uma quinta e centro de congressos, tendo recebido um subsídio de dois milhões de euros da União Europeia destinado a pequenas e médias empresas. Babis alegou que a propriedade era de familiares quando o subsídio foi concedido e só mais tarde incorporada na Agrofert. Se a sua imunidade fosse levantada, Babis enfrentaria uma possível pena de prisão. O caso ("pseudo-caso", segundo o suspeito) está também a ser investigado pelo organismo antifraude da União Europeia (OLAF). Não deixa de ser irónica, a hipótese de o homem que esconjura o euro e nada diz de positivo das instituições europeias ver a sua carreira política arrasada por ter beneficiado de verbas de quem critica. Além disso, o ANO nasceu como partido anticorrupção.
Na campanha, Andrej Babis prometeu baixar os impostos sobre os rendimentos e o consumo, a contribuição para a segurança social e ao mesmo tempo investir no betão, em especial na rede de autoestradas, e em equipamentos escolares. Sobre a relação com a UE, escreveu há dias: "Recuso dar mais poderes nacionais a Bruxelas, como rejeito o euro e uma política comum de migração." A sua capacidade (ou inflexibilidade) negocial é reconhecida. "Babis pode ser muito pragmático quando quer, mas também teimoso... está disposto a tomar a sala como prisioneiro, e já vimos isso no Ecofin", disse à Reuters uma fonte de um governo europeu.
O candidato dos sociais-democratas a primeiro-ministro, Lubomir Zaorálek, recusa entrar numa coligação com Babis. Mas se o CSSD ficar em segundo, o partido pode seguir a linha do novo secretário-geral, Milan Chovanec, que também galga a onda antieuropeia e contra a imigração. Pelo que o partido poderá unir-se ao ANO no governo liderado por Babis.