Biles II. A segunda vida de Simone com mais uma acrobacia histórica

A norte-americana, que esteve ausente dois anos a cuidar da saúde mental, executou com sucesso nos Mundiais de Antuérpia um dos saltos mais difíceis da modalidade.
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Prometeu e cumpriu. A ginasta norte-americana Simone Biles, 26 anos, reapareceu em alta nos Mundiais de Antuérpia, na Bélgica, realizando com sucesso o salto de cavalo mais difícil da modalidade, o Yurchenko Double Pike (Yurchenko com duplo mortal encarpado), que obteve a maior pontuação do código da Federação Internacional de Ginástica (FIG), um magnífico 6,4. A pirueta mágica, entretanto, foi homologada e rebatizada com o seu nome - Biles II.

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Não foi a primeira vez que a atleta norte-americana o fez. Já o tinha conseguido em 2021, mas nunca numa competição internacional. Aliás, Biles tornou-se anteontem na primeira mulher a alcançar tamanho feito num Campeonato do Mundo de Ginástica. Refira-se que estes são os primeiros Mundiais em que participa depois de ter feito uma pausa de dois anos para cuidar da sua saúde mental, após os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2021.

O salto do tipo Yurchenko tem a particularidade de ser executado com um salto de cavalo e deve o seu nome à soviética Natalia Yurchenko, que foi a primeira a executá-lo e que em 2021 felicitou Biles quando esta o apresentou pela primeira vez em competição.

O Biles II, porém, é uma versão mais complexa do Yurchenko original - a atleta norte-americana faz dois backflips (com as pernas esticadas e próximas ao tronco) antes de pousar, algo difícil de concretizar pois exige muita força e velocidade para conseguir elevar-se o mais alto possível, cerca de dois metros, e virar-se rapidamente para cair de pé de forma perfeita.
A FIG já tinha atribuído em 2018 o nome Biles I a um salto feito pela ginasta norte-americana, detentora de 25 medalhas em Mundiais, 19 das quais de ouro. No total, a ginasta já deu nome a cinco acrobacias.

Biles esteve dois anos afastada de todas as competições. O anúncio foi feito pela própria nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, evocando razões de saúde mental. "Assim que piso o tatami, sou só eu e a minha cabeça a lidar com demónios. Tenho de fazer o que é certo para mim e tenho de me focar na minha saúde mental. Temos de proteger a nossa saúde e o nosso bem-estar e não fazer apenas o que o mundo quer que façamos", desabafou na altura.

Foi o soar do alarme de uma super atleta que foi obrigada a crescer e a lidar com o estrelato muito cedo, ela que teve uma infância e juventude marcadas pela toxicodependência da mãe até à adoção, passando pela entrada na ginástica e o duro treino com Márta Károlyi (a treinadora de Nadia Comaneci que não permitia alegria nos treinos), a prisão do irmão por homicídio e os abusos sexuais por parte de Larry Nassar, ex-médico da ginástica norte-americana.

O regresso às competições aconteceu em agosto, no US Classic, onde conquistou o oitavo título nacional de ginástica de solo. Biles não tem falado muito, e uma das poucas entrevistas que deu foi ao site do ao site do Comité Olímpico Internacional, onde explicou as razões que a fizeram regressar ao ativo.

"Acho que grande parte foi imaginar-me daqui a 10 anos, a olhar para trás, e pensar nos arrependimentos que posso ter. Quero estar a ver imagens dos Mundiais ou dos Jogos de Paris na televisão e pensar: "uau, se eu tivesse só voltado ao ginásio, se me tivesse esforçado mais um pouco..." Porque vou sempre fazer tudo aquilo que me apetecer fazer depois de a minha carreira acabar. Mas não vou ter a minha carreira para sempre. Acho que agora o sucesso significa algo um bocadinho diferente para mim. Agora é só aparecer, estar bem mentalmente, divertir-me lá fora e o que acontecer, acontece", referiu.

Agora, em forma e na plenitude das suas capacidades, mesmo não havendo confirmação oficial, é quase certo que Biles vai estar presente nos Jogos Olímpicos de Paris do próximo ano. Ela que impressionou o mundo inteiro quando no Rio 2016 conquistou quatro medalhas de ouro. É caso para dizer que Simone Biles está de volta e não apenas para ganhar e competir. Também para impressionar.

nuno.fernandes@dn.pt

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