BIC vai ter prejuízos este ano e nos próximos devido à integração do BPN
"O Banco BIC português, que vinha a crescer desde maio de 2008, ia ter este ano sozinho (sem o BPN) resultados positivos à volta de 5 milhões de euros. Com o BPN vai dar prejuízos porque os lucros do BIC não chegam para compensar os prejuízos" do BPN, afirmou à Lusa Mira Amaral, na primeira entrevista depois da fusão jurídica do BIC com o BPN, na sexta-feira da semana passada.
Questionado sobre a dimensão dos prejuízos, o presidente do BIC Portugal adiantou apenas que "podem andar numa faixa entre 10 e 20 milhões de euros".
Em março, o BIC comprou o BPN ao Estado português (que o tinha nacionalizado em 2008) por 40 milhões de euros. As contas do BIC referentes ao primeiro semestre ainda serão apresentadas sem o BPN, já as do segundo semestre serão dadas a conhecer tendo em conta a integração das duas entidades.
Segundo Mira Amaral, os prejuízos do BIC com o BPN integrado ainda se poderão arrastar por mais alguns anos: "Se no espaço de três a quatro anos conseguir deixar de ter prejuízos já acho excelente", dependendo também da conjuntura económica, frisou o gestor.
O presidente do BIC reconheceu, assim, que poderá pôr em causa a possibilidade de o Estado receber mais do que os 40 milhões de euros iniciais pela venda do BPN. De acordo com o contrato, se ao fim de cinco anos os lucros acumulados excedessem 60 milhões de euros haveria lugar ao pagamento de mais 20% acima desse valor.
"Se as coisas não correrem mal, é possível que no espaço de 5 anos possamos pagar [mais] algum. Ficaríamos todos encantados - nós, a gestão do banco, os acionistas, os trabalhadores, o Governo e os contribuintes -- se isso acontecesse", afirmou Mira Amaral.
De fora está já a possibilidade de o BIC devolver ao Estado parte dos créditos do BPN que tem em carteira (o que teria de ter acontecido até 09 de dezembro deste ano), uma vez que o banco só podia tê-lo feito se a degradação desses créditos esgotasse as provisões existentes.
"Tem [havido] alguma evolução de crédito malparado, mas perfeitamente confortável para o nosso nível de provisões e para o crédito total dado", afirmou Mira Amaral.
Além disso, adiantou, o BIC também não vai recorrer à linha de 300 milhões de euros disponibilizada pela Caixa Geral de Depósitos, a que o banco podia recorrer caso os depósitos caíssem depois da aquisição do BPN e o banco ficasse em risco de liquidez.
Apesar dos prejuízos que o BIC Portugal com o BPN integrado vai apresentar este ano, o responsável realçou que alguns indicadores têm melhorado.
Desde que o BIC comprou o BPN, os depósitos aumentaram de 1.800 para 2.000 milhões de euros, apesar de, afirmou Mira Amaral, algumas empresas do ex-grupo BPN terem retirado os depósitos após a aquisição o que levou estes a baixarem a seguir para 1.600 milhões de euros.
Quanto ao crédito, explicou que de início este também caiu, devido à decisão de centralizar as decisões de financiamento.
"A consequência foi um entupimento nos processo de decisão e obviamente que o crédito ressentiu-se e tivemos uma baixa de abril para agosto de 200 milhões de euros. Foi detetado o problema e a carteira que em agosto andava pelos 2.000 milhões de euros neste momento está nos 2.150 milhões de euros", relatou.