Berlusconi põe a mulher ainda mais irritada

Valeria Lario volta a perder a paciência com os devaneios do primeiro-ministro, que usa ex-modelos, actrizes e concorrentes do 'Big Brother'  como candidatas ao Parlamento Europeu.
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Veronica Lario, pela segunda vez em dois anos, perdeu a paciência com o marido - Silvio Berlusconi -, e decidiu tornar público o seu desagrado. Fê-lo através de um mail que enviou à agência noticiosa italiana Ansa. Em causa, o facto de o primeiro-ministro estar a escolher as candidatas do seu partido às eleições europeias de Junho próximo com base nos dotes de beleza das jovens - ex-modelos, actrizes e concorrentes do Big Brother.

"Quero que fique claro que os meus filhos e eu somos vítimas e não cúmplices desta situação", afirma a mulher de Berlusconi, e mãe dos seus três filhos, no mail que enviou à Ansa. E adianta: "Temos de a [situação] suportar, e isto faz-nos sofrer."

Veronica Lario, que abandonou a sua carreira de actriz de teatro e cinema nos anos 90 após casar com Berlusconi, foi mais longe na sua denúncia: "A presença de mulheres bonitas na política não é um defeito nem uma qualidade. Mas o que está a acontecer é um descaramento e uma falta de contenção do poder que lesa a credibilidade de todas as mulheres e, em particular, daquelas que sempre estiveram na primeira linha para defender os seus direitos."

"Alguém escreveu que tudo isto (as candidaturas de jovens bonitas) apenas representa um divertimento suplementar do imperador", considerou ainda a mulher do primeiro-ministro italiano que garantiu partilhar "inteiramente" da opinião em causa.

Ao mesmo tempo, Lario recordava mulheres que marcaram, ou marcam ainda, a cena política. Pelas suas qualidades intelectuais e políticas, não propriamente pela cor dos olhos. A antiga primeira- -ministra britânica e líder do partido conservador, Margareth Thatcher; a actual chanceler alemã, Angela Merkel; a já falecida Nilde Iotti, a comunista que presidiu à Câmara dos Deputados italiana de 1979 a 1992, e a actual ministra do Ambiente, Stefania Prestigiacomo, foram alguns dos nomes referidos pela mulher de Berlusconi.

Veronica Lario, de seu nome de solteira, enviou o mail à Ansa na terça-feira à noite, precisamente quando o marido se encontrava em visita de Estado à Polónia.

Foi a partir de Varsóvia, a capital polaca, que Silvio Berlusconi, de 73 anos, respondeu à mulher. Sem lhe apresentar desculpas. Para já. Em 2007, teve de fazê-lo publicamente após Lario o ter exigido em carta aberta publicada no diário La Repubblica.

Em declarações à imprensa, o chefe do Executivo de Roma considerou que "a signora Veronica foi vítima de manipulação da esquerda. Trata-se claramente de uma manobra da imprensa de esquerda. Lamento-o".

A imprensa de esquerda tem, realmente, criticado a forma como Berlusconi decidiu escolher as candidatas do partido às europeias, mas não tem sido a única. No seu site, a Fondazione FareFuturo, um think-tank fundado por Gianfranco Fini, teceu também duras críticas às escolhas em causa. E é bom lembrar que Fini é o antigo líder do partido de direita Aliança Nacional e que chefia com Berlusconi o Partido Povo da Liberdade (PdL, direita).

Mas o primeiro-ministro fez questão de explicar as razões em que se baseia para fazer as tão contestadas escolhas. E, igual a si próprio, não escolheu as palavras: "Queremos renovar a nossa classe política com pessoas cultas, bem preparadas e empenhadas em participar em cada votação, ao contrário das pessoas mal cheirosas e mal vestidas que representam outros partidos no Parlamento e dão má imagem da Itália."

Mas Veronica Lario não está só nas suas críticas. Ontem mesmo, Anna Paola Concia, deputada do Partido Democrata (PD, esquerda), afirmou-se solidária com a mulher do primeiro-ministro e "associar- -se" às suas críticas. "Mais uma vez, a atitude de Berlusconi constitui uma bofetada para as mulheres, o que dá uma má imagem da Itália."

Recentemente, Concia e a eurodeputada Donata Gottardi apresentaram uma queixa contra Berlusconi no Tribunal Europeu por afirmações "sexistas".

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