Berlusconi insiste em negar que Mussolini foi um ditador
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, participa hoje numa manifestação de protesto "contra todas as ditaduras" que parece eliminar o Estado fascista italiano de Benito Mussolini (1922-1943) da história do século XX.
Perante a estupefacção geral, o partido de Berlusconi, Forza Italia, excluiu Mussolini da galeria de cartazes que retratam os grandes ditadores da era actual. No âmbito da manifestação, destinada a celebrar o "aniversário da queda do Muro de Berlim", a coligação de direita no poder afixou cartazes a preto e branco com as figuras de Hitler (de quem o líder fascista italiano foi aliado durante a II Guerra Mundial), Estaline, Fidel Castro, Saddam Hussein e até Ussama ben Laden - mas não a de Il Duce (o líder), assinalaram ontem os principais jornais italianos.
"Ao olharmos para estes cartazes, a dúvida instala-se ter-se-ão esquecido de um tal Mussolini?", questionou o Unità, diário do partido comunista transalpino (DS, Democratici di Sinistra).
O La Stampa, diário do grupo Fiat, aborda a questão com algum humor "Benito Mussolini conseguiu escapulir-se dos cartazes concebidos pela Forza Italia para assinalar a queda do Muro de Berlim."
Mas, já num tom sério, acrescenta "Não ousamos pensar que esta omissão foi feita voluntariamente para não irritar os nostálgicos que votam pela Casa delle Libertà", a coligação governamental de que faz parte a Alianza Nationale (partido nascido do movimento pós-fascista italiano MSI).
Entrevistado pelo Unità, o presidente da Associação Nacional de Resistentes de Roma, Massimo Rendina, lamenta o facto "Uma vez mais, os mais altos dirigentes do Estado demonstram uma certa benevolência para com o fascismo."
Há pouco mais de dois anos, em Setembro de 2003, Silvio Berlusconi viu-se obrigado a pedir desculpas por ter declarado, numa entrevista ao diário La Voce di Rimini, que o antigo ditador Benito Mussolini "nunca matou ninguém" - pelo contrário, "mandava as pessoas de férias para os confins" do país. Apesar disso, forçado pelas fortes pressões da comunidade judia, a Forza Italia volta agora a mostrar apreço pelo criador do regime fascista vigente em Itália entre 1922 e 1943.
Benito Mussolini (1883-1945) criou em 1919 o primeiro movimento político fascista organizado, o Fasci de Combattimento, mas não conseguiu ser eleito como deputado da extrema-direita (o que sucederia dois anos depois).
Os chamados "camisas-negras" tornaram-se num instrumento fundamental dos fascistas contra os adversários socialistas de Mussolini. Este iria liderar, a 28 de Outubro de 1922, a chamada "marcha até Roma" daquelas milícias armadas que não enfrentou qualquer oposição dos chefes políticos e militares de então. Pouco depois, o rei Victor Manuel III convidava Mussolini a entrar para o Governo.