Bergman

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No ano passado, por esta mesma altura, fazíamos o balanço do cinema em 2004, notando que se estreavam cada vez mais filmes em Portugal, boa parte deles com vida muito breve em cinemas não tão cheios como podíamos desejar.

Um ano depois, continuam a estrear-se muitos filmes mas o panorama da afluência às salas piorou bastante. Até Novembro, os cinemas portugueses perderam 1,6 milhões de espectadores (ver artigo na página seguinte).

Tal como aconteceu em 2004, o filme preferido dos portugueses voltou a ser uma longa-metragem de animação. No ano passado foi Shrek 2, este ano Madagáscar, que atraiu às salas 691.805 espectadores. Mas ao contrário do que aconteceu no ano passado (e anteriores), um filme de produção nacional intrometeu-se entre os 10 mais vistos em Portugal.

Ainda em exibição, O Crime do Padre Amaro, de Carlos Coelho da Costa, uma adaptação muito livre e "moderna" do clássico de Eça de Queiroz, já ultrapassou os 300 mil espectadores. É o segundo filme português mais visto de sempre, só atrás de Tentação, de Joaquim Leitão (ver artigo na página seguinte).

O Crime do Padre Amaro foi rodado para televisão (SIC), com estreia prévia em cinema, e financiamento inteiramente privado - o que é uma boa notícia. A má notícia é que o filme é muito mau.

Logo a abrir o ano estreou-se Saraband, de Ingmar Bergman, o melhor filme exibido em Portugal em 2005, segundo os críticos do DN.

Feito originalmente para televisão, Saraband assinala a estreia no digital de um Bergman quase nonagenário. Que filma como se não se tivessem passado mais de 30 anos desde Cenas da Vida Conjugal, de que foi recuperar em Saraband os principais protagonistas.

A idade não amoleceu nem enterneceu o realizador. Ele continua a filmar homens e mulheres obstinados em se infernizar mutuamente - e quanto mais próximos são, pior. Bergman é como um velho general que domina o devastado campo de batalha das paixões e das emoções, mobilizando as suas personagens para dilacerantes confrontos verbais, que podem atingir a violência física.

Em Saraband não se perde uma emoção, não se desperdiça um plano, não se exagera um gesto, não se força uma expressão. Ingmar Bergman usa a câmara como um instrumento que, além de registar imagens, desvenda sentimentos, perscruta almas e recenseia as mil e uma maneiras como os seres humanos se magoam uns aos outros. Quer se amem quer se odeiem.

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