Berardo autoriza análises ao quadro "O Chafariz d'El Rei"

Autenticidade da obra, que integra exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, foi questionada por dois historiadores
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O colecionador Joe Berardo, proprietário do quadro "O Chafariz d"El Rei", cuja autenticidade foi questionada por dois historiadores, disse hoje à agência Lusa que já autorizou a realização de análises à pintura.

"O quadro já foi examinado nos Estados Unidos, em Londres e em Espanha. Para mim não há dúvidas sobre a autenticidade. Todas as opiniões o confirmam", declarou o colecionador, contactado pela agência Lusa.

O pedido para analisar o quadro foi feito pelo Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), onde está patente, desde fevereiro, a exposição "A Cidade Global", dedicada à Lisboa do Renascimento, no âmbito da qual este quadro se encontra exposto, com mais dois, também alvo de polémica por ter sido questionada a sua antiguidade.

"Eu não queria fazer isto [autorizar as análises] porque é dar atenção a historiadores que não são da área, não percebem do assunto. Mas o ministro da Cultura, [Luís Filipe Castro Mendes] pediu-me, e também o diretor do museu [António Filipe Pimentel]. Outros especialistas disseram-me que era a melhor maneira de fechar o assunto", justificou Joe Berardo, para finalmente autorizar a peritagem.

Em causa estão os quadros "A Rua Nova dos Mercadores", ponto de partida da exposição, e de "O Chafariz d"El Rei", que apresentam cenários da Lisboa do século XVI, e cuja autenticidade foi questionada pelos historiadores Diogo Ramada Curto e João Alves Dias em textos publicados pelo semanário Expresso.

O quadro "O Chafariz d"El Rei" - que terá sido pintado entre 1570 e 1580 - "já esteve exposto mais do que uma vez nos Estados Unidos e tem pedidos cada seis meses para esse efeito", recordou Joe Berardo.

"Eu não quero emprestar, porque é uma relíquia histórica portuguesa, com a atividade da Lisboa da época, e até aparece a figura de Luís Vaz de Camões", sustentou o colecionador, acrescentando que, pela sua raridade, "não está à venda".

"A Rua Nova dos Mercadores", que os investigadores têm situado entre 1590 e 1610, está dividida em dois painéis, e é propriedade da Society of Antiquaries of London.

Em textos publicados no semanário Expresso, os historiadores questionaram a antiguidade dos quadros, sustentados em vários pormenores nas pinturas que seriam anacrónicas na época, e apontam para uma datação dos séculos XIX ou XX.

O pedido de autorização aos proprietários para análise às obras foi feito pelo MNAA em acordo com Direção-Geral do Património Cultural, organismo que tutela os museus nacionais.

Contactada pela agência Lusa, fonte do MNAA indicou que ainda não recebeu resposta à autorização pedida à Society of Antiquaries of London, proprietária de "A Rua Nova dos Mercadores", obra dividida em dois quadros.

A mesma fonte indicou que a carta com o pedido de autorização foi enviada a 08 de março, mas não foi recebida pela entidade, e na quinta-feira foi enviada uma segunda via, por correio eletrónico, da qual foi confirmada receção, mas não foi dada ainda resposta.

A Lusa contactou a Society of Antiquaries of London e aguarda uma resposta.

Na véspera da inauguração da mostra - que apresenta Lisboa como uma importante cidade global no período do Renascimento - o diretor do MNAA, António Filipe Pimentel, tinha referido aos jornalistas que a análise às obras ia ser avaliada.

A polémica sobre a datação das obras levou a que o diretor do museu fizesse uma declaração em relação à credibilidade do trabalho das historiadoras Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe, "The Global City: On the Streets of Renaissance Lisbon", sobre o qual assenta a exposição.

António Filipe Pimentel sublinhou, na altura, que o livro foi "amplamente celebrado pela crítica internacional".

Nele, as autoras fazem uma reconstituição do ambiente da cidade de Lisboa no ciclo dos Descobrimentos, a partir de dois quadros que haviam identificado como uma representação da rua Nova dos Mercadores, a principal artéria comercial de Lisboa no período do Renascimento.

Foi "pelo ineditismo da sua visão e objetiva relevância histórica" que o MNAA entendeu convidar as autoras a adaptarem o livro a uma exposição: "A Cidade Global: Lisboa no Renascimento", que ficará patente até 09 de abril.

A exposição "A Cidade Global", que reúne cerca de 250 obras da época, desde mobiliário, pintura, livros, e tapeçaria, entre outros, recebeu, até terça-feira, um total de 18.547 visitantes, segundo o museu.

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