Bento XVI pode ser tratado por Santidade após renúncia
"Tal como sucede no caso dos bispos que concluem o ministério e se chamam bispos eméritos, creio que se pode dizer que o papa, ao renunciar, é bispo emérito de Roma", disse Francesco Coccopalmerio, em entrevista ao diário italiano Corriere della Sera.
"De qualquer forma, o título poderá ser o utilizado até agora: Sua Santidade Bento XVI", sublinhou.
Questionado sobre o que mudará na Igreja, depois da renúncia de Bento XVI, Coccopalmerio, de 75 anos, lembrou que esta possibilidade está contemplada no direito canónico.
"A novidade está em nunca ter sucedido. Que uma coisa concreta não tenha sucedido no passado, pelo menos no passado recente, não quer dizer que não possa acontecer", disse.
Para Coccopalmerio, num "motu proprio" [documento publicado por iniciativa pessoal], Bento XVI poderá esclarecer alguns pontos da Constituição apostólica sobre como deve decorrer o conclave e permitir que seja antecipado.
A Constituição apostólica "Universi Dominici Gregis" (1996) indica que o conclave deve começar entre 15 e 20 dias depois do início da chamada Sé Vacante - período entre a morte ou renúncia de um papa até à eleição do sucessor - para dar tempo dos cardeais eleitores chegarem a Roma.
Na quarta-feira, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, explicou que Bento XVI está a estudar a possibilidade de publicar um "motu proprio" para esclarecer alguns pontos da Constituição apostólica.
"O papa está a avaliar a possibilidade de publicar um 'motu proprio' nos próximos dias, evidentemente antes do início do período de Sé Vacante [após a demissão formal do papa, a 28 de fevereiro], para precisar alguns pontos particulares da Constituição apostólica sobre o conclave", explicou o padre Federico Lombardi.
O porta-voz disse que os "pontos particulares" devem ser sobre a data do conclave e desenvolvimento litúrgico.
Lombardi sublinhou que a data de início do próximo Conclave vai ser determinada apenas em reunião geral [congregação] de cardeais após o final do pontificado, na próxima quinta-feira.
Na ocasião, o padre Federico Lombardi adiantou também que Bento XVI vai confiar ao sucessor o dossiê da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, fundada por D. Marcel Lefèbvre (1905-1991), no qual se estuda uma proposta para a reintegração canónica na Igreja Católica.
Bento XVI, de 85 anos, anunciou a 11 de fevereiro, durante um consistório no Vaticano, a resignação a partir dia 28 de fevereiro devido "à idade avançada".
Um novo papa será escolhido até à Páscoa, a 31 de março, disse na altura Federico Lombardi, anunciando que um conclave deve ser organizado entre 15 e 20 dias após a resignação do pontífice.
O último chefe da Igreja Católica a renunciar foi Gregório XII, no século XV (1406-1415).