Benfica campeão explicado pelos números

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Boa parte das razões para justificar o Benfica campeão está nos números, porque eles nos dão o retrato fiel do que as equipas rendem em campo. Basta olhar para eles para perceber que Benfica e FC Porto são quem melhor compatibilizou defesa e ataque nesta Liga e que o título dos encarnados se explica pela vantagem que obtiveram nos dois parâmetros. Até o falhanço do Sporting tem aqui acolhimento: a equipa leonina foi absolutamente bipolar no que a essa compatibilidade diz respeito, sendo a mais bem trabalhada no ataque mas defendendo ao nível das que por esta altura lutam para evitar a descida de divisão.

O erro mais habitual de quem usa os números para justificar uma perceção da realidade é o excesso de simplificação. Olha-se para os números em absoluto e eles pouco explicam: dizem-nos que o FC Porto tem o melhor ataque e a melhor defesa, mas depois é o Benfica quem soma mais pontos. Contradição? Dizem-nos que o Sporting consegue ter mais bola em média nos seus jogos do que o FC Porto, sendo os dois suplantados pelo Benfica, mas isso só significa que os três gerem os jogos de forma diferente: o Benfica controla com bola quando se coloca em vantagem, o Sporting cria mais envolvimentos do que o FC Porto, que vai mais direto ao objetivo. E dizem-nos, por exemplo, que o Benfica permitiu até aqui mais 54 remates aos adversários do que o FC Porto - mesmo tendo a bola por mais tempo - e mais 37 do que o Sporting, mas isso também não nos diz nada de especial. Prefiro centrar a análise na relação remate/golo, porque essa, mesmo podendo ser sujeita a interpretações desviantes, ajuda muito melhor a entender o que as equipas valem.

E é nesta análise que se estabelecem as diferenças que explicam a coroação do Benfica como campeão nacional. O Benfica marca um golo a cada 7,3 remates e só o sofre quando os seus opositores chegam aos 16,9 remates. Em comparação, o FC Porto precisa de 7,7 remates para fazer um golo e permite que os adversários o façam aos 14,5. E enganem-se os que pensam que isto tem que ver só com eficácia ou até predominantemente com eficácia de avançados e guarda-redes - o segredo, aqui, é a condição em que os remates são feitos ou o modo como se conduz o adversário para áreas em que eles podem na mesma rematar mas sem poderem à partida ser tão felizes. Assumindo que a diferença não se explica pela incapacidade de os jogadores de umas equipas fazerem golos e pela qualidade dos guarda-redes de outras a evitá-los - seria estranho que, em média, só por causa das suas competências técnicas, um jogador do Nacional precisasse de 18 remates para marcar, enquanto que um do Sporting o fizesse a cada 5,9 tentativas - o que estes números nos revelam é a qualidade dos comportamentos coletivos das várias equipas da Liga.

E aqui a bipolaridade do Sporting é um exemplo paradigmático. Sendo uma equipa muito bem trabalhada do ponto de vista ofensivo - um golo a cada 5,9 remates fazem dos leões os melhores da Liga neste aspeto - é a pior de todas na forma de defender. E certamente ninguém no seu perfeito juízo sustentará que a razão para que os leões sofram um golo a cada 7,1 remates - os piores da Liga, seguidos de Nacional (7,3), Moreirense (7,4) e Tondela (7,6) - é a má qualidade de Rui Patrício, guarda-redes da seleção nacional que esteve em destaque no último Europeu. Não. O que se passa é que o Sporting defende tão mal, tem comportamentos tão irregulares sem bola, que por aí se explica a falência da candidatura da equipa de Jesus ao título. Aliás, se compararmos a relação entre a eficácia defensiva e ofensiva, o ratio do Sporting (1,20) é apenas o quinto da Liga, atrás de Sp. Braga e V. Guimarães (ambos nos 1,61) e, sobretudo, das duas equipas que lutaram até ontem pelo título: o FC Porto nos 1,87 e o Benfica, bem lá longe, nos 2,33. Por isso o Benfica foi campeão.

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