Bem-vindo, presidente Miloš Zeman
Quando há pouco mais de uma década o avião da Transportadora Aérea Portuguesa, TAP, me deixou no aeroporto de Praga, recordo ainda vivamente o turbilhão de sentimentos que então me invadiu! Desde logo um imenso vazio complemento da saudade da família e dos amigos que tinham ficado para trás e por outro lado alguma apreensão pelo futuro próximo que me esperava num país até então pouco conhecido dos portugueses, mas que agora me abria as portas para realizar o sonho e o desejo de obter a licenciatura para que me sentia vocacionado.
Embora a monumentalidade de Praga, a bela e misteriosa capital, já me tivesse chegado pelos livros e pela televisão, foi em casa que aprendi a sua histórica Primavera e admirei os corajosos patriotas que desafiaram com a vida o opressor que lhes roubava a sua identidade.
Alexander Dubèek, Václav Havel, Franz Kafka e tantas outras referências da cultura e política vieram mais tarde, à medida que nos íamos introduzindo e identificando com o povo checo, cujas simpatia, afabilidade e organização muito me impressionaram e admirei.
Em Pilsen, a quem me apetece chamar também de "minha cidade" pelos bons e inesquecíveis tempos que ali passei, pude ouvir os horrores da Segunda Guerra Mundial pela boca de quem a viveu e sofreu, o que me permitiu passar a ter outra ideia da Europa a que pertencemos.
Mais tarde vieram outros nomes de tradutores, cientistas e artistas checos que contactam com a língua de Camões, desde Jaroslav Vrchlický, que publicou a primeira tradução dos Lusíadas e a professora Marie Havlíková, profunda conhecedora da literatura portuguesa e com quem conversei amiudadas vezes.
A propósito da relação entre os nossos dois países, parece oportuno referir a exposição que decorre em Praga comemorativa da solidariedade dos jovens portugueses que em 1989, em apoio à Revolução de Veludo, foram entregar 50 mil rosas aos estudantes checos, gesto que deu lugar a uma longa e profunda amizade entre os presidentes Václav Havel e Mário Soares.
Neste momento, são muitos os portugueses que estabelecem relações de amizade, seja por visitas de carácter turístico, relações comerciais ou académicas. Neste contexto, não podemos deixar de referir o importante contributo dado pelos estudantes portugueses de Medicina que nas exigentes e prestigiadas universidades checas têm alcançado as suas licenciaturas.
Refira -se também a recente integração da República Checa como observador na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) por força do trabalho realizado no âmbito da cooperação no espaço lusófono, bem como a criação da Associação de Amizade Portugal-República Checa, que reúne portugueses cujo percurso de vida está ligado a este país amigo e que tem em vista promover e fortalecer as relações culturais, desportivas, socioeconómicas e académicas entre os dois países.
Do que aqui fica sumariamente registado resulta uma dívida e o apreço pela República Checa e sua gente, graças aos quais temos hoje uma visão melhorada sobre a história desta nossa Europa antes desbastada por uma guerra feroz, mas que vive agora em união de povos que circulam livremente e lutam pela paz e pelo bem-estar das populações.
Seja por isso bem-vindo a Portugal, senhor presidente!
Médico, sócio fundador da Associação de amizade Portugal/República Checa