Bélgica. Quando o chocolate nos envolve

Mala de viagem (19). Um retrato muito pessoal da Bélgica.
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O aeroporto de Bruxelas serviu de escala no regresso da aventura entre o Cairo e a nascente do Nilo. De regresso, de Entebe para Lisboa, fizemos escala em Kigali, no Ruanda, e Bruxelas, na Bélgica. O aeroporto internacional, também conhecido como "Aeroporto de Zaventem" e inaugurado em 30 de maio de 1958, é o mais importante da Bélgica e um dos mais movimentados do continente. Opera com destinos dentro da Europa, África, América do Norte, Caraíbas, Médio Oriente e Ásia. Nessa circunstância, realizava-se, em Bruxelas, o Salón du Chocolat. Não havendo tempo para o visitar, acerquei-me de uma loja: The Belgian Chocolate House. A funcionária confessou-me que o aeroporto de Bruxelas é o maior ponto de venda de chocolate do mundo, com mais de 800 toneladas por ano. Todos os dias, cerca de duas toneladas são vendidas ou 1,5 kg por minuto. Todos os turistas querem levar de volta essa especialidade como lembrança após sua estada ou passagem, mas também todos os belgas querem oferecer esse orgulho nacional à sua família e aos amigos e conhecidos. Ali, provei os famosos pralinês, herdeiros do abade de Baudeloo, em Ghent, que no século XVII comprou chocolate e lançou a comercialização dessa mistura. A empresa Berwaerts, de Antuérpia, criou, em 1849, a primeira barra de chocolate. Em 1857, Jean Neuhaus, um farmacêutico de Bruxelas, teve a primeira ideia de cobrir os seus medicamentos com chocolate, para torná-los mais apetitosos. Em 1912, o seu neto, apaixonado por chocolate, preparou os primeiros recheados. Inicialmente, era uma base simples de açúcar e creme fresco revestido. Alguns anos depois, a sua mulher Louise teve a ideia de apresentar os chocolates em pequenas caixas fechadas por uma fita (as cédulas). Foi a partir desta época que a reputação dos chocolates belgas começou a dar a volta ao mundo. A promoção do chocolate também foi uma invenção belga. Foi comercializado pela Côte d'Or, pela primeira vez, em 1952, cuja promoção foi reforçada através de uma importante campanha na Exposição Universal, realizada em Bruxelas (1958). Naquela circunstância em que eu ali estava no aeroporto, em escala, não deu para visitar os chocolateiros da cidade: Neuhaus, Pierre Marcolini, Corné Port-Royal ou Godiva. Ficou, porém, a boca doce e o olhar preso. Tudo era doce na Casa do Chocolate. Despedi-me da simpática funcionária e pus-me a voar. O chocolate tem destas coisas...

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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