Bebé abandonado em cabine telefónica vai conhecer a mãe biológica...64 anos depois
Na certidão de nascimento, emitida em janeiro de 1954 pelo estado do Ohio, a maior parte da informação está ausente ou é imaginada. A data de nascimento, 25 de novembro de 1953, é uma estimativa. O nome, Robert Janson, eventualmente uma homenagem ao camionista Robert Wilson Sr., distribuidor de uma padaria, que o encontrou numa madrugada gelada de janeiro, embrulhado num lençol, dentro de uma caixa de cartão, com uma garrafa de leite cheia ao seu lado. De concreto, no documento, apenas dois factos: é um rapaz. E apareceu dentro de uma cabine telefónica, junto ao Yelky's drive-in Restaurant, em Lancaster.
Para Robert - aliás: Steve Dennis, nome que recebeu dos pais adotivos, com os quais se mudou para o Arizona - esta informação foi mais do que suficiente durante 64 anos. "Quando tinha 18 ou 19 anos fui a Lancaster para dar uma vista de olhos", resumiu ao Lancaster Eagle-Gazette .
O mesmo jornal, a 16 de janeiro de 1954, publicara a sua fotografia na primeira página, ao colo de um agente da polícia, gerando uma onda de solidariedade e curiosidade pelo "bebé de olhos azuis". Que também viriam a tornar-se castanhos com o tempo.
Steve soube desde muito cedo, através dos pais Stanley e Vivian Dennis, que tinha sido adotado. E, apesar de eventualmente também ter tomado conhecimento das circunstâncias peculiares do início da sua vida, nunca deixou que estas o definissem. Fez carreira nos Peace Corps, viajando pelo mundo inteiro em missões humanitárias. Depois, há 22 anos, casou-se com Maria, com que teve duas filhas, e reinventou-se como quiroprático, profissão de que se reformou há algum tempo atrás.
O passado ficara definitivamente esquecido. Mas acabou por ser reavivado devido ao interesse das duas filhas pelas suas origens. Através destas, que o convenceram a fazer testes de ADN e a recorrer ao Acenstry.com, chegou até a um primo, cujo passaporte biológico coincidia com o seu. E, por intervenção deste, foi apresentado a uma meia-irmã, que também fez os testes.
Agora, Dennis já sabe que a mãe biológica refez a vida em Baltimore, Maryland, onde casou e teve duas filhas. Também sabe - ou pelo menos é esta a versão que lhe foi contada -que nasceu num hospital do Kentucky, tendo sido abandonado pelo pai biológico na cabine telefónica naquela manhã de janeiro. Este terá convencido a mãe que só se casaria com ela se esta abrisse mão do bebé. E depois desapareceu para parte incerta.
Talvez já saiba mais do que pretendesse. Mas agora, que já percorreu este caminho, decidiu, com o acordo da mãe biológica, que irá a Maryland no final do mês para conhecer a mulher que o trouxe ao mundo.
"É interessante. Não é um tremor de terra na minha vida nem nada do género", garantiu ao Lancaster Eagle-Gazette. "Os meus verdadeiros pais, claro, foram os meus pais adotivos. E seria quase impossível vê-lo de outra forma". Não vai à procura de explicações ou desculpas. No máximo, disse ao jornal, espera algumas informações que o ajudem a preencher as peças em falta na sua vida. "Não vou dar uma grande dimensão a isto. Aceitarei aquilo que ela estiver disposta a dar-me e ficará por aí. Quer dizer: não posso ir transtornar uma mulher de 85 anos. Por isso, tudo aquilo que ela se sentir confortável a dizer-me, aceitarei. É mais do que tinha antes".