BCP, BPI e Santander dispensaram 4800 colaboradores em cinco anos

Os três maiores bancos privados lucraram, em conjunto, 763 milhões de euros em 2015. A conjuntura económica e financeira ditou o fecho de 556 balcões
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O BCP, o Santander Totta e o BPI prosseguiram, em 2015, a tendência de cortes de pessoal e fecho de balcões. Os três maiores bancos privados - já apresentaram as contas do ano passado - dispensaram 4797 colaboradores e fecharam 556 balcões nos últimos cinco anos.

De acordo com a análise efetuada pelo DN/Dinheiro Vivo, tendo por base os relatórios e contas das instituições, o BCP, o Santander Totta e o BPI contabilizavam, no final de 2010, 23 459 funcionários e tinham um total de 2384 balcões em funcionamento em Portugal. Volvidos cinco anos, os três grandes bancos privados contam 18 662 trabalhadores e 1828 agências abertas. E os cortes não vão ficar por aqui. As novas tecnologias estão a acelerar a "revolução digital" no setor e a automatização de processos ditará novos cortes nos quadros de pessoal.

A redução dos custos operacionais tem sido uma das principais prioridades da banca nos últimos anos, sobretudo na atividade doméstica. O setor atravessou, desde 2010, vários desafios conjunturais e estruturais, a chamada "tempestade perfeita". Por um lado, e ainda na ressaca da crise do subprime de 2008, a crise das dívidas soberanas e a económica colocaram restrições à atividade bancária. As dificuldades de acesso ao funding, as baixas taxas de juro, as margens apertadas, o agravamento das imparidades e a desalavancagem reduziram a capacidade de o setor gerar receitas. Por outro, a banca assistiu a um aumento sem precedentes das iniciativas regulatórias, de supervisão e de proteção do consumidor.

A redução da força de trabalho foi mais acentuada no BCP (menos 2687 funcionários), seguida do BPI (corte de 1557 colaboradores). Esta diminuição resulta, em parte, da implementação de planos de reestruturação a que as instituições ficaram sujeitas na sequência dos pedidos de apoio estatal. Para encolherem as operações domésticas, os bancos recorreram a cortes salariais, rescisões amigáveis ou reformas antecipadas.

Já o Santander Totta viu sair cerca de 553 colaboradores, um número muito inferior ao de BCP e BPI. O banco liderado por António Vieira Monteiro não recorreu a ajuda pública, ficando à margem de qualquer processo de reestruturação imposto por Bruxelas. Até agora, a estrutura foi reajustada por saídas normais (por reforma). No entanto, a aquisição do Banif obriga o Santander Totta a estudar a racionalização da rede e a redistribuição de trabalhadores.

Lucro de 763 milhões de euros

A redução de custos, a par com a melhoria em outras rubricas como o crescimento da margem financeira, permitiram às instituições melhorar a rendibilidade em 2015. As três instituições privadas lucraram, no conjunto, 763 milhões de euros. O BCP e o BPI regressaram aos lucros, enquanto o Santander aumentou o resultado em 50%. Nas apresentações de contas, os banqueiros salientaram as alterações nas habituais fontes de receitas, a enorme pressão sobre os custos e as novas oportunidades de negócio. É neste contexto que surge a banca digital, uma oportunidade para os players tradicionais num sistema em revolução.

O Millennium BCP foi a primeira instituição a assumir a aposta no digital como uma estratégia para os próximos três anos. A evolução do banco liderado por Nuno Amado permitirá aumentar a percentagem de clientes com acesso digital e o número de transações digitais. Na prática, a automatização dos processos e a virtualização dos serviços reduzirá o custo por cliente de retalho, dos atuais 171 euros para um valor inferior a 160 euros em três anos.

A redução de pessoal é o outro lado do barómetro desta transformação da banca ao encontro dos "nativos digitais". No plano "O caminho para 2018", o BCP assumiu que prevê fechar mais cem sucursais no próximo triénio, o que ditará novos despedimentos. Ainda assim, o banco não "quer perder o foco na relação pessoal com os clientes", como afirmou Nuno Amado. Apesar da dimensão dos cortes nas três instituições privadas ser significativa, as contas da CGD e do Novo Banco vão agravar o retrato. Só em 2015, a CGD iniciou um processo voluntário de reformas, de forma a acelerar a redução de quadros no banco, que perdeu 232 trabalhadores em 2014. Já o Novo Banco, no âmbito do plano de reestruturação, deverá cortar cerca de mil postos de trabalho, de acordo com a informação avançada pelo Jornal de Negócios.

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