BCE já abrandou compras em agosto. E pode travar mais até fim do ano

Nova reunião de política monetária deverá trazer revisão em alta do crescimento e da inflação na Zona Euro.
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O Banco Central Europeu deverá rever hoje em alta as projeções de crescimento e inflação para a zona euro, com um anúncio, suave e largamente antecipado pelos mercados e analistas, de redução no ritmo de compra de ativos ao abrigo do programa de emergência criado pela instituição para responder à adversidade económica trazida pela pandemia, o chamado PEPP.

O BCE pode mesmo já ter posto o pé no travão: as compras líquidas ao abrigo do programa de emergência desaceleraram em agosto, apesar do compromisso, na última reunião de política monetária de final de julho, de aceleração do ritmo de aquisição de ativos no atual trimestre face aos meses iniciais de 2021. Os dados mensais da instituição mostram que em agosto o PEPP rendeu às economias do euro uma liquidez adicional de 65,05 mil milhões de euros, contra 87,57 mil milhões no mês anterior. O valor não era tão baixo desde fevereiro.

Na verdade, este abrandamento não terá feito diferença. "As condições de financiamento permanecem extremamente favoráveis para famílias, empresas e Estados", reflete Holger Schmieding, analista do banco de investimento Berenberg, em nota que antecipa os resultados da reunião desta quinta-feira. Os investidores continuam a pedir menos pela tomada de dívida alemã ou italiana do que em junho, apesar de alguma subida nas yields, e os mercados de ações, pese embora as flutuações, mantêm pujança, lembra.

Para o Berenberg, a ideia é que a desaceleração na compra de ativos já foi incorporada e o BCE não deverá causar surpresas num anúncio que assuma redução dos níveis mensais de compras líquidas de outubro a dezembro, mantendo-se a flexibilidade para, consoante as condições, dosear liquidez do plafond global de emergência de 1 850 mil milhões de euros.

O consumo deste envelope do PEPP atingia os 1337 mil milhões no final de agosto e é de esperar que só venha a esgotar-se o seu uso após março de 2022, tendo em conta as garantias dadas pela presidente do BCE, Christine Lagarde, a 22 de julho.

O que virá depois já é objeto de especulação por parte de alguns analistas, que antecipam alterações no programa regular de compra de ativos da instituição. Mas não deverá ser assunto para esta reunião. No Goldman Sachs, espera-se que a matéria só seja discutida nas reuniões de outubro e dezembro. "Apesar de esperarmos que o conselho de governadores tenha uma discussão inicial sobre as condições necessárias para terminar o PEPP, não antecipamos novidades significativas sobre o cenário pós-PEPP nesta reunião", referem Soren Radde e Sven Jari Stehn em nota de análise da instituição.

Mas os analistas também erram. Pelo menos, assim admite o governador do banco central da Áustria, Robert Holzmann, que avisava ontem sobre a "possibilidade" de se "normalizar a política monetária mais cedo do que espera a maioria dos peritos em mercados financeiros" consoante as pressões inflacionárias, citado pela Reuters. O austríaco está entre os cinco "falcões" do BCE, com os responsáveis da Alemanha, Bélgica, Holanda, e Letónia, favoráveis à redução dos estímulos.

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