Barroso 'apanhado' no fogo cruzado entre Zapatero e o PP

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O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, está no meio de uma disputa política entre o Governo socialista de José Luis Zapatero e o Partido Popular (PP), na oposição.

Em causa está um processo de aquisição envolvendo empresas do sector energético espanhol - a OPA da Gas Natural sobre a Endesa - e no qual a Comissão teve de se pronunciar. Sucede que, no passado dia 06, nas vésperas de Bruxelas anunciar a sua posição, Barroso esteve em Madrid - para onde viajou, e de onde regressou à capital belga, num avião do Executivo espanhol - a analisar um conjunto de dossiers onde se incluía esse caso.

Na sexta-feira, o PP anunciou que vai requerer a presença de Zapatero no Parlamento para dar explicações sobre a viagem de Durão Barroso. O porta-voz daquele partido acusou mesmo o Governo de "fazer todas as pressões possíveis na UE para que a OPA seja aprovada, ainda que à custa dos fundos estruturais".

Ontem, no final da XXI Cimeira Luso-Espanhola que se realizou na cidade portuguesa de Évora, José Luis Zapatero qualificou como uma "pura bazófia noticiosa e especulativa" a posição do PP de associar a decisão do Executivo comunitário com as negociações sobre as Perspectivas Financeiras da União que actualmente estão em curso.

Condenando "a insinuação inaceitável" de que Madrid trocou o parecer favorável de Bruxelas, no caso da OPA da Gas Natural, "por qualquer coisa ao nível das negociações em torno das Perspectivas Financeiras", o presidente do Governo espanhol mostrou-se muito irritado "É inaceitável e uma bazófia filosófica, assim como inadmissível, dizer-se que Espanha recebeu de Bruxelas uma posição favorável na OPA em troca das Perspectivas Financeiras."

Zapatero saiu depois em defesa do presidente da Comissão, mostrando a sua "absoluta surpresa" com as notícias do encontro entre ambos "Penso que o PP deve ter respeito pelo trabalho de Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia, assim como o Governo de Espanha tem esse respeito."

"Tal como defende Espanha, a Comissão Europeia entendeu que a OPA é uma competência do Estado espanhol. Surpreende-me muito que os primeiros a invocar poderes de Espanha sejam também aqueles que não querem que o Estado espanhol tenha competências em relação a uma operação envolvendo duas empresas nacionais, e que é decisiva para o nosso futuro num sector como o energético", adiantou o governante espanhol.

Pia Ahrenkilde, porta-voz da Comissão, confirmou o convite de Zapatero a Barroso para ir a Madrid e justificou o recurso ao avião do Governo espanhol como "a única maneira de os dois se poderem encontrar" naquele dia. "A Comissão não tem um avião e as agendas de ambos coincidiam fora dos horários dos voos regulares" entre Bruxelas e a capital espanhola.

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