Bares de Lisboa temem perder clientes com alteração do horário de fecho
Os proprietários de pequenos bares do Cais do Sodré receiam perder metade da faturação atual com a proibição de vender bebidas para fora após a 01:00, hora a partir da qual dizem ter mais clientes.
Se, mediante ações de fiscalização, for verificado que esta norma não é cumprida, o estabelecimento poderá ser penalizado com a redução temporária do horário de funcionamento, tendo de fechar às 23:00 todos os dias da semana.
Em causa está a entrada em vigor na sexta-feira de um despacho da Câmara de Lisboa que prevê, além desta medida, que os bares do Cais do Sodré, Santos e Bica, em Lisboa, passem a fechar às 02:00 em dias úteis e às 03:00 ao fim de semana, enquanto atualmente podem funcionar até às 04:00.
Cristóvão Caxaria, do movimento Lisboa Com Vida, que junta proprietários de alguns espaços do Cais do Sodré, disse à agência Lusa que ali "há clubes maiores, discotecas, em que as pessoas pagam entrada e bebem lá dentro" e outros "bares do género do Bairro Alto, com menores dimensões, que dependem do espaço [público] que não têm lá dentro e que têm bebidas mais baratas e não cobram entrada".
Nos espaços mais pequenos, com capacidade para dez a 20 pessoas, "vamos perder cerca de 50% da faturação com essa medida restritiva", sendo que há mais clientes entre a 01:00 e as 04:00, disse Cristóvão Caxaria.
O vereador da Higiene Urbana da Câmara de Lisboa, Duarte Cordeiro, disse à Lusa que, para garantir que a proibição de venda para o exterior após a 01:00 é cumprida, os estabelecimentos devem funcionar "com as portas fechadas [a partir dessa hora] e, no ato de venda ao cliente, informá-lo que deve consumir dentro do estabelecimento".
Usar copos de vidro em vez de plástico também poderá "evitar que os clientes saiam para a rua", acrescentou.
Gonçalo Riscado, da Associação do Cais do Sodré, que agrega donos de estabelecimentos com maiores dimensões, defendeu que "deviam proibir o botellón nesta zona", termo espanhol usado para descrever a ingestão de grandes quantidades de álcool na via pública, sobretudo entre os mais jovens.
Também os moradores julgam que a restrição de consumo de álcool na rua é "a única medida capaz de pôr alguma ordem na noite desta cidade", relatou Isabel Sá da Bandeira, do movimento Aqui Mora Gente, que agrega residentes no Cais do Sodré e em Santos.
O mesmo pensa Carla Fidalgo, da Associação de Moradores de Santa Catarina, apesar de a zona da Bica ser mais calma.
Porém, tal medida não é competência da Câmara, justificou Duarte Cordeiro.
A presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, afirmou que este despacho "é um pequeno passo para resolver um problema grave", pelo que também é necessário rever o licenciamento zero (que facilita a criação de estabelecimentos e sem consultar as autarquias).
No caso de Santos, a Junta da Estrela pretende avançar com um projeto paralelo, já que para o presidente, Luís Newton, o despacho "não vai ter o impacto desejado" naquela zona. A iniciativa passará por ter mais polícias junto aos bares, fechar o jardim Nuno Álvares à noite, reforçar a limpeza e criar esplanadas para evitar o consumo na rua.