Barcos típicos do Tejo não passam na nova ponte

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Os tradicionais barcos do Tejo, varinos e fragatas essencialmente, terão de diminuir a altura dos mastros para conseguirem navegar por baixo da nova Ponte da Lezíria, que no domingo será inaugurada pela Brisa.

O tabuleiro de circulação rodoviária da nova travessia do Tejo, que ligará o Carregado a Benavente pela A10, tem cerca de 20 metros de altura para o rio, o suficiente para impedir a passagem das embarcações tradicionais do rio, cujos mastros podem chegar aos 28 metros.

A maioria destas embarcações é propriedade dos municípios de Alcochete, Barreiro, Montijo, Moita, Seixal e Vila Franca de Xira, que as adquiriram e recuperaram para fins culturais e turísticos. Os barcos são, normalmente, usados em visitas sociais pelo estuário do Tejo, por crianças das escolas e idosos. Serão cerca de 20 as embarcações com mastros mais altos (varinos e fragatas). Com botes, faluas e canoas, outro tipo de embarcações típicas de menor porte, não se colocam problemas à navegação.

O arrais João Rodrigues, do Alhandra Sporting Clube, associação que organiza o Cruzeiro do Tejo, garante que barcos com mais de 20 metros de mastro não conseguem subir o rio para lá do Carregado. "Eu próprio fiz as medições. Com maré cheia, o vão da ponte para a água é de 19 metros e em maré baixa é de 22 metros." Em relação à cinquentenária Ponte de Vila Franca de Xira, João Rodrigues garante que a altura para a linha de água não é a mesma. "A nova ponte é ligeiramente mais baixa."

Mesmo o varino Boa Viagem, da câmara municipal da Moita, que tem o mastro mais curto com 21,5 metros, não consegue manobrar. João Lobo, presidente da câmara, confirmou ao DN que já este ano o Boa Viagem não subiu o rio até Salvaterra de Magos, por ocasião do Cruzeiro do Tejo, porque se sabia que não passava por baixo da nova travessia do rio. "O varino é o logotipo da Moita", diz João Lobo, acrescentando que para a população ribeirinha a navegabilidade do rio não é apenas figurativa.

O arrais do Boa Viagem vai mesmo mais longe e sublinha que as dificuldades "vão acabar por retirar a Tejo os seus barcos típicos".

Já Graça Filipe, directora do ecomuseu do Seixal, afirma que apenas uma das embarcações municipais o bote Baía do Seixal, com 15,5 metros de mastro, consegue subir o Tejo para lá do Carregado. "O outro bote com 17 metros de mastro, segundo o arrais, não passa debaixo da ponte e e o varino Amoroso, com 25 metros de altura, muito menos."

A directora do Ecomuseu salienta que o varino já não passava na Ponte de Vila Franca de Xira, mas lamenta que as condições de navegabilidade dos barcos típicos estejam cada vez mais reduzidas no Tejo. Também os varinos Pestarola, do município do Barreiro ou o Alcatejo, de Alcochete, não tem altura para navegar debaixo da nova ponte da Lezíria.

O canal de navegação do Tejo, junto à margem direita, tem uma altura de 70 metros na Ponte 25 de Abril, de 47 metros, na Vasco da Gama e 20 metros em Vila Franca.

Há três dias o DN solicitou à Brisa, concessionária da nova auto-estrada, as características técnicas da nova ponte, assim como um comentário sobre este assunto. Depois de um assessor ter garantido que a altura da Ponte da Lezíria era "igual à de Vila Franca de Xira" e que "ninguém se pronunciou na fase de discussão pública", mais nenhuma informação nos chegou até ao fecho da edição.|

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