Barbeiros ajudam China a ultrapassar América
Conhece o chau min, as massas chinesas tipo esparguete? Fique pois a saber que do preço delas depende os Estados Unidos deixarem de ser a primeira economia mundial em breve. E também do valor de cada corte de cabelo e barba feito na China, a aspirante ao lugar mais alto no pódio dos PIB. Quem o afirma é o Financial Times. Sem ironias.
A bíblia do jornalismo económico usa os exemplos da massa e dos barbeiros como podia usar os do vinho de sorgo e dos guias turísticos. Está nas mãos dos peritos do Banco Mundial reavaliar cada um destes bens e serviços na China. Seja em dólares correntes seja em paridade de poder de compra. E por muita ciência que se use, a nova estimativa ameaça ser polémica. Tão discutível como a União Europeia decidir que prostituição e droga passam a contar na estatística da riqueza.
Lembra o Financial Times que o conceito de PIB nasceu na América da Grande Depressão. Uma encomenda de Roosevelt ao economista Kuznets. Graças ao novo cálculo das contas nacionais, os americanos descobriram que a crise de 1929 tinha reduzido para metade a riqueza. Ficaram depois a saber que, finda a Segunda Guerra Mundial, o país produzia 50% do PIB do planeta.
Ora, saltemos para a década de 1980. A liderança americana continuava sólida, já ninguém acreditando que União Soviética ou Japão lá chegariam. O milagre alemão também não dava mais que para um quarto lugar na hierarquia das potências. E onde estava então a China? Num modesto nono posto, ainda com um PIB 15 vezes inferior ao dos Estados Unidos.
Mas as reformas de Deng começavam a frutificar. Taxas de crescimento de 10% representam uma duplicação da economia em sete anos. Itália, Grã-Bretanha e França não tardaram a ser ultrapassadas. Em 2007, também a Alemanha. Em 2010, o Japão. E agora?
A economia americana valia em 2013, em dólares, um 17 seguido de 12 zeros; a chinesa um 9 e os mesmos zeros. Trata-se de biliões, os fabulosos trillions anglo-saxónicos. Mas em paridade de poder de compra, se os Estados Unidos mantém o valor, a China exibe já um 13 seguido da tal dúzia de zeros. Confuso? Como admite o Financial Times, ainda não se inventou nada melhor para medir a economia.
O curioso é que a China chegar ao topo é voltar à realidade pré-Revolução Industrial. Num tempo em que quase não havia bens manufaturados, e com escassos serviços, a agricultura era a base da riqueza. Com a sua enorme massa humana, a China teve o maior PIB até ao início do século XIX, certificam os cálculos de Angus Maddison, célebre historiador da economia. Como terá ele avaliado o chau min de há 200 anos?