Bárbaros atacam Grande Muralha
A Grande Muralha da China, que resistiu para cima de dois milénios aos ataques das mais bárbaras tribos asiáticas, parece estar a sofrer nos últimos anos os maiores danos de sempre, a avaliar por ecos de indignação contra a passividade das autoridades que o permitirão.
Como se não bastassem legiões de saqueadores, ano a ano expoliando, das suas próprias pedras, o monumento que a UNESCO classificou, em 1987, como Património da Humanidade, vêm juntar-se àqueles uns milhares de novos bárbaros, jovens chineses e estrangeiros, participantes num chamado Wild Dancing Party, festival de música electrónica com pista de dança, junto à muralha, numa espécie de discoteca-lixeira a céu aberto.
Música, álcool e drogas acompanharam a função até ao amanhecer e, no dia seguinte, "o panorama era desolador", com lixo, garrafas e copos amontoados por toda a parte, enquanto o fedor a urina, a vómitos e a excrementos infestava a zona da muralha onde decorrera o concerto, segundo escreveu Pablo M. Díez, correspondente em Pequim do diário espanhol ABC, citando relatos de testemunhas à comunicação social chinesa. "A festa danificou seriamente a imagem do monumento", lamentaria, indignado, o secretário-geral da Associação da Grande Muralha, Dong Yahoui, que falou de "provocação" e explicou não serem inéditos tais ataques contra o património. De facto, segundo Pablo M. Díez, o Wild Dancing Party já vai em oito edições e não é, por outro lado, a única actividade ali desenvolvida e considerada profanadora do local.
A Grande Muralha da China, impressionante construção humana, com mais de seis mil quilómetros de comprimento, atravessa várias províncias e só a zona correspondente ao município de Pequim se encontra protegida, por uma postura municipal de 2003, que proibe qualquer tipo de exploração privada do monumento.
Não é esse, no entanto, o caso de algumas outras zonas, como a de Jilingshan, na província vizinha de Hebei - precisamente a sede do festival agora contestado -, cujas autoridades cederam a gestão do monumento a uma empresa privada, desde 1997 a até ao ano 2050, pelo montante de seis milhões de yuans (597 551 euros). De então para cá, proliferaram actividades comerciais junto a esse símbolo do colosso oriental. Dong Yahoui reclamou a generalização da norma legal protectora de tais atentados. O que o Governo estará a preparar, como adiantou ainda o secretário --geral da associação zeladora pela sobrevivência do monumento.
Entretanto, avançou uma campanha contra o Wild Dancing Par- ty - visando sobretudo estrangeiros, miúdas mais liberais vindas de Hong Kong e jovens chineses seguidores de modas do Ocidente capitalista. O festival realizou-se a 30 de Julho, mas as suas imagens só foram distribuídas pela agência oficial vários dias depois e com exportação proibida.