Bangladesh. O que é "Joy Bangla"?
Em 1519, o Sultanato de Bengala é descrito, pelos portugueses, como "Delta do Ganges", no mapa do "Atlas Miller", quando comerciantes de Malaca, Ceilão e Bombaim começaram a cruzar as rotas marítimas da baía de Bengala, depois de Vasco da Gama desembarcar no sul da Índia. O Sultanato recebeu, então, enviados oficiais portugueses. O sultão deu permissão para estabelecer a colónia portuguesa em Chatigão ou Chitagongue, um próspero porto comercial distante da capital, Dhaka, o que a tornou o primeiro enclave europeu em Bengala. Os missionários portugueses foram os precursores da expansão do cristianismo no Bangladesh. Após as guerras subsequentes contra os arakaneses e os mughals, perdemos o controlo sobre Chatigão, em 1666, no entanto, alguns descendentes ainda vivem nos bairros antigos da cidade. Foi com estes dados históricos que entrei nessa cidade para absorver o espírito remanescente da presença lusitana. Consta que o número atingiu 40 mil portugueses, embora essa ideia possa ter como origem os nativos que chamariam "Portugueses" a todos os que tinham uma tonalidade de pele morena. Presentemente, a cidade é um centro industrial de grande importância, nomeadamente na refinação de petróleo. "Joy Bangla" é uma expressão nacionalista, assumida como mote identitário do país. Um dos meus dias em Bangladesh foi passado na Universidade, onde Shariful Islam, meu ex-aluno do Mestrado em Turismo, em Lisboa, preparava uma investigação sobre o património deixado pela presença portuguesa em Chatigão e na pequena ilha de Sundiva, defronte da cidade. O período do estudo histórico começa em 1528, o ano em que os portugueses estabeleceram uma feitoria e uma alfândega, com a designação de "Porto Grande de Bengala". No final do século, eram 2500 portugueses. Depois, Shariful Islam analisará os vestígios atuais da nossa presença e o potencial turístico. Ele voltara ao Bangladesh apenas para esta investigação, tornando a Lisboa para a defesa da tese. A sua família já se instalara na capital portuguesa, como comerciantes da zona do Intendente, tal como muitos outros que, nos últimos anos, rumaram ao nosso país, quinhentos anos depois, em sentido contrário da história épica dos descobrimentos portugueses e do fomento das rotas comerciais.
Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.