Banco de Inglaterra estudava Brexit em segredo. Até agora

Email confidencial do Banco de Inglaterra sobre saída do Reino Unido da União Europeia acabou na caixa de correio de um jornalista.
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Qual é o pior destinatário de um email confidencial do Banco de Inglaterra com os detalhes de um estudo secreto sobre a eventual saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e a forma de evitar as perguntas dos media sobre o tema? Um jornalista. Mas foi precisamente um repórter do jornal britânico The Guardian que recebeu essa informação na sua caixa de correio eletrónico, obrigando o banco a reconhecer a existência de um tal projeto sobre o Brexit (das palavras Britain e exit).

"Não deve ser surpresa para ninguém que o banco esteja a realizar esse tipo de trabalho sobre uma política governamental", escreveu o Banco de Inglaterra num comunicado. "Há uma série de questões económicas e financeiras que surgem no contexto da renegociação e do referendo", acrescentou. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reeleito com maioria absoluta a 7 de maio, prometeu renegociar os termos da adesão do Reino Unido à UE e realizar, até ao final de 2017, um referendo sobre a eventual saída do país da União.

O email foi enviado do gabinete do vice-diretor para a estabilidade financeira, Jon Cunliffe (que estaria à frente do projeto secreto intitulado Bookend), a quatro executivos. E depois, por engano, reenviado pelo chefe do gabinete de imprensa, Jeremy Harrison, ao jornalista do The Guardian.

No email lia-se: "A proposta do Jon, que me pediu que te explicasse, é que nenhum email seja enviado à equipa do James [Talbot, chefe da divisão de avaliação e estratégia monetária] ou ao resto do Banco sobre o projeto". Indica ainda que desculpa deve dar James à equipa enquanto está a trabalhar no Bookend - "está a trabalhar num projeto a curto prazo sobre economia europeia" - e que as perguntas de terceiros (leia-se os media) sobre se este projeto está ligado à questão do referendo devem receber como resposta a indicação de que "já muitas coisas a acontecer na Europa" que são de interesse para o Banco de Inglaterra, e citar por exemplo os problemas na Grécia.

"Apesar de ser infeliz que esta informação se tenha tornado do domínio público desta forma, o Banco mantém a sua abordagem", diz o comunicado. Mas já começam a ouvir-se críticas sobre se este tipo de estudo deve ser feito em segredo: o ministro-sombra das Finanças, o trabalhista Chris Leslie, pediu um debate "informado" sobre o referendo e não "processos clandestinos afastados dos olhares públicos". Mas há quem defenda que o projeto era secreto para evitar que o banco seja usado no debate político.

Por outro lado, há também quem questione que outro tipo de projetos confidenciais podem estar a decorrer dentro do Banco de Inglaterra. Mark Carney, o governador do banco central, tomou alegadamente medidas no final do ano passado para aumentar a transparência.

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