Balcãs em situação dramática 15 anos depois da guerra
Depois de passar por Zagreb e Sarajevo, António Guterres tem agendados na capital sérvia encontros com o presidente Boris Tadic e com vários membros do Governo e activistas da causa dos refugiados como o famoso basquetebolista Vlade Divac, bem como uma visita a um centro de refugiados.
Apesar dos progressos realizados nos 15 anos decorridos desde o final da guerra na Bósnia, o problema dos refugiados assume ainda uma dimensão dramática nos Balcãs, sendo a Sérvia o país da Europa com a maior população de refugiados e deslocados pela guerra.
Em Novembro de 1995, na altura da assinatura dos acordos de Dayton, perto de metade da população da Bósnia-Herzegovina tinha sido condenada pelos quatro anos de guerra à condição de refugiado ou de IDP (deslocados internos).
Desde então mais de um milhão de refugiados e deslocados regressaram às duas entidades que integram a Bósnia - a Federação Croato-muçulmana e a Republika Srpska.
Os progressos registados - fruto dos acordos de Dayton, dos compromissos de cooperação na matéria assumidos pela Bósnia, pela Croácia, pela Sérvia e o Montenegro (declaração de Sarajevo, de Janeiro de 2005) e do apoio do Alto Comissariado para os Refugiados -, têm sido lentos, e deixam ainda mais de 300 mil refugiados e de deslocados na região.
O problema assume uma dimensão particular no caso sérvio. A Sérvia chegou a ter, depois do conflito da Bósnia e dos ataques croatas à Eslavónia e à Krajina (Verão de 1995) mais de 500 mil refugiados, a que se juntariam depois mais de 200 mil deslocados pelo conflito do Kosovo.
Desde então a integração da maioria, a emigração para outros países e o regresso de 31 por cento dos refugiados fugidos da Bósnia diminuiu essa população em 80 por cento.
Mas o problema continua a colocar-se em relação à população expulsa pelas ofensivas croatas do Verão de 1995, e que representa mais de 75 por cento dos 97 mil refugiados oficialmente registados na Sérvia.
O problema do regresso da população sérvia à Croácia tem-se revelado problemático e apenas 18 por cento dos refugiados da Krajina consumaram o regresso às suas terras de origem .
O Governo de Zagreb tem multiplicado obstáculos ao regresso dos refugiados sérvios, e em particular no que toca à recuperação de propriedades e terrenos agrícolas pelos seus antigos proprietários.
O Governo de Zagreb mantém em sigilo uma lista de sérvios acusados de crimes de guerra, situação de representa um factor dissuasor dos candidatos ao regresso, e têm-se registado casos de ataques a sérvios regressados bem como a templos e cemitérios ortodoxos.
Apesar dos avanços registados em matéria de integração dos refugiados e deslocados de guerra, e dos apoios do Alto Comissariado para os Refugiados e da União Europeia, António Guterres depara na Sérvia com uma situação complexa.
Segundo um estudo realizado o ano passado com o apoio do Alto Comissariado, a taxa de desemprego entre os refugiados é 33%, significativamente mais alta do que a população local. Cerca de 30 por cento dos refugiados vive com um rendimento mensal de menos de 48 euros, e 61 por cento esperam ainda uma solução em matéria de habitação.